Por Jarrett Renshaw
CHEYENNE, Wyoming (Reuters) - A American Bridge é a principal organização de pesquisa de oposição do Partido Democrata, gastando dezenas de milhões de dólares para rastrear rivais republicanos e produzir anúncios de ataque.
Mas, em 2024, a organização, que é aliada do presidente Joe Biden e tem grandes somas de recursos, está acrescentando uma nova função que pode ajudar a moldar a eleição presidencial de 5 de novembro: suprimir terceiros.
Preocupada com o fato de que as candidaturas de terceiros de um grupo de centro chamado No Labels (Sem Rótulos, numa tradução livre) e do ativista antivacina Robert F. Kennedy Jr. possam tirar votos de Biden em Estados cruciais como Pensilvânia, Michigan e Arizona, a American Bridge contratou o proeminente advogado eleitoral Marc Elias para ajudar a impedir essas candidaturas, entre outras coisas.
Uma tática central empregada: sinalizar problemas técnicos ou iniciar uma contestação legal à medida que os candidatos de uma terceira via navegam em uma colcha de retalhos de leis para chegar às cédulas estaduais.
Segundo afirmou Pat Denis, presidente da American Bridge, em um comunicado à Reuters, a organização está atenta aos detalhes e "não estamos descartando uma ação legal com nossos advogados se identificarmos um problema -- e isso se aplica a todas as ameaças de terceiros ao presidente Biden".
Outros aliados de Biden também lançaram um ataque em várias frentes para privar candidaturas de terceiros de apoio financeiro e político. Além de tentar mantê-los fora das votações estaduais, eles dizem que estão pedindo aos doadores que não lhes enviem dinheiro e alertando os candidatos em potencial para que fiquem de lado, de acordo com entrevistas com grupos envolvidos nos esforços.
O grupo No Labels apresentou uma queixa ao Departamento de Justiça dos EUA alegando que esses esforços representam uma "conspiração ilegal para usar intimidação, assédio e medo" contra seus apoiadores e doadores, anunciou Dan Webb, ex-procurador dos EUA e líder do grupo, nesta quinta-feira.
A demanda dos EUA por um candidato presidencial independente atingiu níveis recordes em meio à profunda insatisfação dos eleitores com Biden, de 81 anos, e seu provável rival republicano, Donald Trump. Uma pesquisa Reuters/Ipsos em dezembro mostrou que seis em cada dez entrevistados estavam insatisfeitos com o sistema bipartidário e queriam uma terceira opção.
As pesquisas mostram que os eleitores estão profundamente preocupados com a idade de Biden e com a força da economia, bem como com as ameaças de Trump de acabar com a democracia.
O grupo No Labels e Kennedy, dois adversários que não estão ligados um ao outro, acumularam as candidaturas independentes mais bem financiadas e bem organizadas da história política moderna para testar a barreira dos principais partidos, segundo analistas políticos.
O No Labels, que ainda não nomeou um candidato, já arrecadou mais de 60 milhões de dólares e se qualificou em 14 Estados, incluindo Arizona, Nevada e Carolina do Norte -- Estados que provavelmente ajudarão a decidir a eleição. Está em campo ou apresentou petições em pelo menos mais 13 Estados e planeja gastar cerca de metade de seu dinheiro para garantir o acesso às urnas em todos os 50 Estados.
"Estamos em um momento único em que os eleitores de Nova York a Wyoming estão simplesmente fartos de suas opções", disse Jane Hall, que trabalhou no governo do ex-presidente Bill Clinton e é copresidente do No Labels em Wyoming, enquanto ia de porta em porta na cidade de Cheyenne coletando assinaturas para o partido.
Enquanto isso, Kennedy e uma organização política que o apoia planejam gastar um total de 30 milhões de dólares para colocá-lo nas cédulas estaduais.
Nenhum candidato de terceira via venceu uma eleição presidencial moderna nos EUA, embora alguns, como Ralph Nader em 2000 e Ross Perot em 1992, tenham desempenhado papéis fundamentais, tirando votos dos candidatos dos principais partidos. Os democratas temem que, desta vez, seu partido possa se fragmentar com uma candidatura de centro de terceira via, enquanto a base leal a Trump permaneça com ele.
A pesquisa Reuters/Ipsos de dezembro mostrou que a liderança de Trump aumentou para uma vantagem de 5 pontos em nível nacional quando os entrevistados tiveram a opção de votar em Kennedy.
"É muito improvável que eles vençam... Mas há uma chance real, uma chance substancial, de que eles determinem o vencedor, e é por isso que os democratas estão apopléticos com eles", disse Larry Sabato, professor de ciência política da Universidade da Virgínia.
SEM BOAS OPÇÕES
Matt Bennett, cofundador do grupo de centro-esquerda Third Way, está entre as vozes mais proeminentes que ajudam os democratas a tentar bloquear candidaturas de terceiros. O grupo se uniu à organização progressista MoveOn e a outras para dissuadir os eleitores de terem qualquer associação com o No Labels.
"Conversamos com doadores, candidatos em potencial e outros, e nossa mensagem para todos é a mesma: não há nenhuma chance de que esses esforços de terceiros sejam bem-sucedidos, mas eles ajudarão Donald Trump a vencer e isso é uma coisa ruim", disse Bennett.
Esses esforços são financiados por mais de 1 milhão de dólares de Reid Hoffman, o megadoador democrata bilionário, disse Bennett.
Richard Gephardt, ex-congressista democrata, formou um grupo de apoio chamado "Citizens to Save Our Republic" (Cidadãos para Salvar Nossa República) para alertar os norte-americanos contra o apoio a candidaturas de terceiros. Ele arrecadou 200.000 dólares até o momento para uma campanha de informação.
"Às vezes, na vida, você não tem duas boas opções", disse Gephardt. "Você não tem nem mesmo uma boa escolha. Você tem duas opções de que realmente não gosta, mas precisa fazer uma escolha. E é isso que estamos tentando dizer aos americanos. Vocês podem não gostar dessa escolha, mas não façam a escolha de colocar de volta no cargo alguém que tentou derrubar o governo federal."
Tony Lyons, chefe de um grupo de apoio pró-Kennedy, disse que os norte-americanos deveriam estar "indignados" com o esforço que os democratas têm feito para impedir candidaturas de terceiros.
"Vivemos em uma democracia, pelo menos é o que se espera. Como é possível, e até mesmo legal, continuar gastando milhões para manter um candidato fora das urnas ou amarrá-lo em brigas legais sem sentido?" disse Lyons.