Por Simon Lewis e Trevor Hunnicutt
WASHINGTON/GENEBRA (Reuters) - Em sua primeira viagem internacional, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tentou retratar a Rússia não como uma concorrente direta de seu país, mas como um participante menor em um palco global no qual Washington está cada vez mais preocupado com a China.
Assessores disseram que Biden queria enviar a mensagem de que Putin está se isolando no palco global com suas ações, que vão da interferência eleitoral e os ataques cibernéticos contra nações ocidentais ao tratamento que dá aos seus críticos domésticos.
Mas Biden pode ter dificuldades em uma tentativa paralela de frear a deterioração das relações EUA-Rússia e conter a ameaça de um conflito nuclear ao mesmo tempo em que desdenha a Rússia, disseram alguns observadores.
"O governo quer diminuir as tensões. Não está claro para mim que Putin o queira", disse Tim Morrison, assessor de Segurança Nacional dos EUA durante a gestão Trump. "As únicas cartas que ele tem para jogar são as do desestabilizador."
Autoridades dos dois lados haviam minimizado as chances de grandes avanços nas conversas, e estavam certas --nenhuma se materializou.
Mas os dois presidentes prometeram voltar a trabalhar no controle de armas, assim como na segurança cibernética, e buscar áreas de cooperação possível, sinais de alguma esperança em um relacionamento entre dois países com poucos pontos em comum nos últimos tempos.
Os laços já estavam esgarçados quando Biden, no início de seu governo, repetiu sua descrição de Putin como "um assassino", o que aprofundou uma crise diplomática que levou os dois países a convocarem seus embaixadores nas respectivas capitais.
Ecoando uma abordagem do ex-presidente Barack Obama, que classificou a Rússia como um "poder regional" depois que o país anexou a Crimeia da Ucrânia em 2014, Biden tentou mostrar que a Rússia não é uma concorrente direta dos EUA.
Falando após seu encontro com Putin, Biden disse que a Rússia quer "desesperadamente continuar sendo uma grande potência".
"A Rússia está em uma posição muito, muito difícil neste momento. Eles estão sendo espremidos pela China", disse o norte-americano antes de embarcar para partir de Genebra, brincando que os russos "não querem ser conhecidos como, assim como alguns críticos dizem, vocês sabem, Alto Volta com armas nucleares", disse ele, referindo-se à ex-colônia francesa do oeste africano hoje conhecida como Burkina Faso.
Uma autoridade de alto escalão do governo dos EUA disse que abordagem de Biden com a Rússia tem mais chance de ser êxito porque o presidente norte-americano se reuniu com Putin logo depois de mobilizar aliados em torno do princípio de manter uma "ordem internacional baseada em regras" durante reunião do G7 no Reino Unido e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em Bruxelas.
"Houve um forte alinhamento na proposta básica de que todos precisamos defender... essa ordem, porque a alternativa é a lei da selva e o caos, o que não é do interesse de ninguém", disse essa autoridade.
(Por Simon Lewis e Trevor Hunnicutt em Washington e Humeyra Pamuk e Steve Holland em Genebra)