Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - Em dia de tumultuada inauguração da série de depoimentos que pretende colher, nesta terça-feira com o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito(CPMI) dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro decidiu convocar o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional Gonçalves Dias.
Por acordo entre os integrantes do colegiado, também foram aprovadas convocações ao ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Saulo Moura e ao coronel Jean Lawand Junior -- que teria supostamente incitado um golpe de Estado em mensagens trocadas com o ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro, Mauro Cid.
Gonçalves e Moura ocuparam os postos de comando já durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
As convocações de Gonçalves e Moura atendem a demandas da oposição, que pretende explorar a tese de que o ex-GSI teria sido avisado com antecedência pela Abin dos riscos de as manifestações resultarem em depredação de patrimônio público.
No dia 8 de janeiro deste ano, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro inconformados com a vitória eleitoral de Lula participaram de ato de "retomada do poder" que terminou na depredação do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF).
O depoimento desta terça-feira do ex-diretor-geral da PRF demorou a engrenar, enquanto a relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA) tentava fazer perguntas a Vasques. A reunião da CPMI chegou a ser suspensa após bate-boca entre parlamentares.
Na condição de testemunha, Vasques negou proximidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro e sustentou que a relação entre os dois tinha caráter "profissional".
Também negou irregularidades na atuação da PRF durante a votação em segundo turno nas eleições presidenciais do ano passado, principalmente nos Estados da região Nordeste, onde o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva contava com mais votos, segundo pesquisas eleitorais. Ele chefiava a corporação à época.
"Por que é que a gente só ia ter problema na Região Nordeste brasileira? Por que é que só os Estados do meu Nordeste tiveram uma atenção tão grande -- do nosso Nordeste, então, para os nordestinos -- uma atenção tão grande com tanto efetivo policial, em detrimento de outros estados brasileiros?", questionou a relatora.
"O que se falou muito é que a PRF, no segundo turno da eleição, direcionou a sua fiscalização para o Nordeste brasileiro. Isso não é verdade, não é verdade porque o Nordeste brasileiro é o local em que nós temos nove Estados, nove superintendências, temos a maior estrutura da PRF no Brasil, a maior quantidade de unidades da PRF", respondeu o ex-diretor.