Por Marco Aquino e Marcelo Rochabrun
LIMA (Reuters) - Centenas de peruanos protestaram na sede da autoridade eleitoral do país, em Lima, nesta terça-feira, enquanto a apuração dos votos se aproximava do fim, com o socialista Pedro Castillo mantendo uma estreita margem de votos e as tensões em alta por conta de cédulas contestadas e acusações de fraude.
Castillo, que tem preocupado os mercados e empresas de mineração com seus planos de reformar a política do país rico em cobre, tem 50,2% dos votos, à frente da candidata de direita Keiko Fujimori, que tem 49,8%, com mais de 97% dos votos apurados.
Na segunda-feira, Fujimori fez acusações de fraude sem provas, adicionando combustível a uma situação já tensa, e divulgou uma hashtag para que usuários do Twitter apresentassem exemplos do que chamou de "irregularidades".
Especialistas eleitorais, incluindo observadores internacionais, disseram à Reuters que nenhuma fraude foi observada.
"Estamos protestando por conta do flagrante roubo eleitoral. A autoridade eleitoral está jogando a favor do sr. Castillo, eles estão tentando cometer fraude em seu favor", disse Fernando Tavera, um manifestante pró-Fujimori do lado de fora da autoridade eleitoral.
Apoiadores de Castillo também se dirigiram ao local para expressar seu apoio em contraprotestos. Ambas as manifestações eram pacíficas.
Lourdes Morales, que apoia Castillo, disse: "acreditamos que é um escândalo a maneira que Fujimori aumentou seus números na votação", em referência à maneira que a conservadora aos poucos foi diminuindo a margem em relação a Castillo por grande parte do dia. "E isso gera incerteza", completou.
Lima é onde Fujimori tem maior apoio. Castillo, que é filho de camponeses, disparou tardiamente na apuração, enquanto a maior parte dos votos em regiões rurais foi sendo contado, chegando a liderar por mais de 100 mil votos em um determinado momento. Entretanto, impulsionada por votos internacionais, Fujimori voltou a ganhar terreno.
A atual diferença é de 84 mil votos.
Keiko Fujimori, herdeira de uma poderosa família política, disse que mantinha as esperanças de estreitar a diferença em relação a Castillo.
O drama deixa os peruanos colados aos canais de imprensa enquanto esperam a totalização dos votos. Mas o resultado final pode estar a dias de distância, e as cédulas contestadas podem ser cruciais para a decisão.
Há cerca de 1.364 atas de votos sendo questionadas, o que provavelmente representará algo entre 270 mil e 300 mil cédulas. Elas devem ser contadas por um comitê especial criado pela comissão eleitoral, o que pode demorar ao menos uma semana.
Se Castillo vencer, os investidores observarão se ele procurará acalmar o país após uma eleição polarizadora e qual será sua mensagem inicial quanto à direção da política econômica e o panorama de investimento, disse o Goldman Sachs (NYSE:GS).
Castillo promete reescrever a Constituição para fortalecer o papel do Estado e tomar uma porção maior dos rendimentos das mineradoras. Keiko Fujimori promete seguir um modelo de livre mercado e manter a estabilidade econômica do Peru.
(Por Marco Aquino e Marcelo Rochabrun em Lima; reportagem adicional de Marc Jones, Karin Strohecker e Tom Arnold em Londres e Rodrigo Campos em Nova York)