Por Julia Symmes Cobb
BOGOTÁ (Reuters) - O artista colombiano Fernando Botero, cujas esculturas e pinturas de temas lúdicos e redondos em situações por vezes angustiantes fizeram dele um dos artistas mais ricos do mundo, morreu aos 91 anos.
Proclamado como a resposta da América do Sul a Picasso, Botero também abordou a violência e temas políticos, incluindo os conflitos internos da Colômbia, bem como retratou a vida cotidiana.
Suas obras foram apresentadas em exposições em todo o mundo. Suas telas e esculturas são vendidas por mais de 2 milhões de dólares cada, segundo a Sotheby's.
Os temas ousados do artista foram retratados em situações cotidianas -- uma mulher corpulenta nua descansando em uma cama ou um homem corpulento montando um cavalo humoristicamente descomunal -- mas serviram ao objetivo mais sério do artista de transportar o espectador para o que ele chamou de "dimensão superlativa", onde situações corriqueiras tomavam proporções exageradas.
Apesar da riqueza cômica de muitas das suas criações, o artista nunca se esquivou de temas sérios -- a sua série de pinturas sobre o escândalo da prisão de Abu Ghraib gerou discussões em todo o mundo da arte.
"Morreu Fernando Botero, o pintor das nossas tradições e defeitos, o pintor das nossas virtudes. O pintor da nossa violência e da paz", disse o presidente colombiano, Gustavo Petro, na plataforma X, anteriormente conhecida como Twitter.
Embora amplamente conhecido por pintar sujeitos volumosos, Botero insistiu que suas peças não eram focadas no tipo de corpo.
"Eu não pinto mulheres gordas", disse o artista ao jornal espanhol El Mundo em 2014, "ninguém acredita em mim, mas é verdade. O que eu pinto são volumes".
O trabalho de Botero às vezes se concentrava no conflito interno de longa data da Colômbia -- ele pintou as consequências de um carro-bomba e um grupo ameaçado por homens empunhando armas automáticas e facões ensanguentados.
Ele também criou retratos irônicos de figuras públicas, incluindo o fundador do grupo rebelde das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Manuel Marulanda.
Mas foi a sua série sobre Abu Ghraib que atraiu a atenção global. As pinturas, baseadas em relatos de vítimas e fotos tiradas dos abusos de prisioneiros iraquianos por parte de soldados norte-americanos, são explícitas e angustiantes.
A série foi exibida em todo o mundo, atraindo dezenas de milhares de espectadores. O jornal New York Times disse que as pinturas, embora não sejam obras-primas, "restauram a dignidade e a humanidade dos prisioneiros sem diminuir sua agonia".
Mesmo com oitenta anos, o artista pintava no mínimo oito horas por dia.
"Quero morrer pintando", disse ele ao jornal colombiano El Tiempo no ano em que completou 80 anos.