Por Jake Spring e Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Diplomatas expressaram surpresa e decepção nesta sexta-feira com os novos dados de desmatamento na Amazônia brasileira este ano, afirmando que o crescimento da área desmatada aumenta a pressão sobre o governo do presidente Jair Bolsonaro para fazer mais para impedir a destruição.
Os indícios de que o Brasil analisou os dados por três semanas antes de anunciá-los também atraiu indignação de organizações não-governamentais.
O governo divulgou o relatório, datado de 27 de outubro, após a cúpula climática COP26 da ONU neste mês em Glasgow, onde o Brasil assinou uma promessa global para acabar com o desmatamento até 2030 e assumiu mais compromissos climáticos.
O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Pereira Leite, disse a jornalistas que só teve acesso aos dados na quinta-feira, quando foram anunciados. Ele chamou os dados de "inaceitáveis" e prometeu ações mais rígidas para combater o desmatamento.
Os dados mostraram que o desmatamento na Amazônia brasileira atingiu o nível mais alto desde 2006, com 13.235 quilômetros devastados, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Dados preliminares do Inpe divulgados neste ano indicavam que o desmatamento poderia cair um pouco, mas os dados finais mais precisos mostraram um aumento de 22%.
As árvores da Amazônia absorvem grandes quantidades de dióxido de carbono que, de outra forma, aqueceriam o planeta.
Um diplomata europeu disse à Reuters, sob condição de anonimato, que estava "muito decepcionado com os últimos números".
Um segundo diplomata europeu, de um país diferente, afirmou que os números são "muito piores" do que o esperado.
Embora o aumento tenha surpreendido, o Brasil não mostrou que a política ambiental está caminhando na direção certa, segundo a fonte.
“Todos os sinais políticos vindos do governo através do Congresso ou outros meios claramente não mostram nenhuma vontade política de reduzir o desmatamento”, disse o diplomata.
A pressão do setor privado e de governos estrangeiros "só está aumentando" para que o Brasil mostre um plano concreto de como vai conseguir fazer com que o desmatamento fique sob controle, acrescentaram as fontes.
O Palácio do Planalto e os ministérios do Meio Ambiente e das Relações Exteriores não responderam de imediato a um pedido de comentário sobre as críticas.
Um diplomata brasileiro, que participou da COP26 em Glasgow, disse à Reuters que os negociadores não sabiam dos dados durante as negociações da ONU e reconheceu que isso aumentaria a pressão sobre o Brasil.
Mas o diplomata, falando sob condição de anonimato, afirmou que o Brasil nas negociações já havia admitido que o desmatamento era um problema e que novas metas de desmatamento eram bem-vindas.
"Temos que admitir e temos que resolver, até para manter nossa capacidade de negociar e influenciar”, disse a fonte.
Valentina Sader, diretora-assistente do centro para a América Latina no Atlantic Council, disse que os dados combinados com as metas do Brasil na COP podem aumentar o escrutínio internacional.
“Os compromissos assumidos publicamente em Glasgow serão essenciais para responsabilizar o Brasil”, declarou ela.
(Reportagem adicional de Gabriel Stargardter e Anthony Boadle)