Por Nidal al-Mughrabi e Steve Holland
GAZA/TEL AVIV (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chegou a Israel nesta quarta-feira prometendo solidariedade na guerra do país contra o Hamas e apoiando a versão de que a explosão que matou um grande número de palestinos em um hospital de Gaza foi causada por militantes.
A bola de fogo que engolfou o hospital Al-Ahli al-Arabi produziu algumas das imagens mais angustiantes de uma guerra de 12 dias e destruiu os planos da Casa Branca para a missão diplomática de emergência de Biden no Oriente Médio, com os líderes árabes cancelando a cúpula planejada com o presidente dos EUA.
As autoridades palestinas culparam um ataque aéreo israelense pela explosão, que, segundo elas, matou cerca de 500 pessoas. Israel disse que a explosão foi causada por um lançamento de foguete que falhou do grupo militante palestino Jihad Islâmica, que negou a culpa.
Em discurso ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, Biden disse: "Fiquei profundamente triste e indignado com a explosão do hospital em Gaza ontem e, com base no que vi, parece que foi feita pelo outro lado, não por vocês".
"Mas há muitas pessoas por aí que não têm certeza, então temos muito, temos que superar muitas coisas", acrescentou Biden.
"O mundo está olhando. Israel tem um conjunto de valores, assim como os Estados Unidos e outras democracias, e eles estão procurando ver o que vamos fazer."
A viagem de Biden ao Oriente Médio deveria acalmar a região, apesar de ele ter demonstrado o apoio dos EUA a seu aliado Israel, que prometeu aniquilar o movimento Hamas, cujos combatentes mataram 1.400 israelenses em um ataque no dia 7 de outubro.
Mas depois da explosão no hospital, a Jordânia cancelou a segunda parte do itinerário de Biden: uma cúpula planejada em Amã com os líderes da Jordânia, do Egito e da Autoridade Palestina.
Netanyahu agradeceu a Biden por seu "apoio inequívoco". O gabinete do presidente de Israel, Isaac Herzog, disse que o chefe de Estado havia dito a Biden: "Deus o abençoe por proteger a nação de Israel".
"NOS AJUDE, NOS AJUDE!"
As cenas de destruição do hospital foram horríveis até mesmo para os padrões dos últimos 12 dias, que confrontaram o mundo com imagens implacáveis, primeiro de israelenses massacrados em suas casas e depois de famílias palestinas enterradas sob escombros dos ataques de retaliação realizados por Israel.
As equipes de resgate vasculharam os escombros manchados de sangue do hospital em busca de sobreviventes. Um chefe da defesa civil de Gaza informou que o número de mortos foi de 300, enquanto fontes do Ministério da Saúde local estimaram em 500, embora Israel tenha contestado esses números. O porta-voz do ministério palestino, Ashraf Al-Qudra, disse que as equipes de resgate ainda estavam recuperando corpos.
"As pessoas entraram correndo no departamento de cirurgia gritando: 'Ajudem-nos, ajudem-nos, há pessoas mortas e feridas dentro do hospital!'", disse o Dr. Fadel Naim, chefe do departamento de cirurgia ortopédica do hospital.
"O hospital estava cheio de mortos e feridos, corpos desmembrados e sem vida", disse ele à Reuters. "Tentamos salvar quem podia ser salvo, mas o número era grande demais para que a equipe do hospital pudesse salvar... Nós os vimos vivos, mas não pudemos ajudá-los e eles foram martirizados."
Posteriormente, Israel divulgou imagens de drones do local da explosão do hospital, que, segundo o país, mostraram que suas forças não foram responsáveis, porque não havia cratera de impacto de nenhum míssil ou bomba.
Os militares israelenses publicaram o que disseram ser uma gravação de áudio de "comunicação entre terroristas falando sobre foguetes que não dispararam".
Os palestinos estavam convencidos de que a explosão foi um ataque israelense, sem nenhum aviso para que os civis deixassem um hospital que estava sendo usado como abrigo por milhares de habitantes de Gaza que já haviam ficado desabrigados pelos bombardeios israelenses.
"Esse lugar criou um refúgio seguro para mulheres e crianças que escaparam dos bombardeios israelenses", disse outro médico do hospital, Ibrahim Al-Naqa, à Reuters. "Não sabemos o nome do projétil, mas vimos os resultados quando ele atingiu crianças e despedaçou seus corpos."
"CABEÇAS FRIAS"
Depois que Biden apoiou o relato israelense, outros líderes ocidentais também pediram cautela.
"Ontem à noite, muitos tiraram conclusões precipitadas sobre a trágica perda de vidas no hospital Al Ahli", postou na plataforma X, anteriormente conhecida como Twitter, o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, James Cleverly. "Compreender isso de forma errado pode colocar ainda mais vidas em risco. Aguarde os fatos, informe-os de forma clara e precisa. A cabeça fria deve prevalecer."
A explosão desencadeou uma nova fúria nas ruas do Oriente Médio, mesmo com Biden tentando acalmar as emoções e evitar que o conflito se espalhasse.
As forças de segurança palestinas dispararam gás lacrimogêneo e granadas de atordoamento para dispersar manifestantes antigoverno na cidade de Ramallah, na Cisjordânia, sede do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, um dos líderes árabes que cancelou o encontro com Biden.
O Departamento de Estado dos EUA emitiu um novo aviso aos norte-americanos para que não viajem ao Líbano, onde os confrontos na fronteira entre o movimento Hezbollah, apoiado pelo Irã, e Israel na semana passada foram os mais mortais desde a última guerra total em 2006.
Biden apoiou fortemente Israel após os ataques de 7 de outubro. Mas ele está sob intensa pressão para obter um compromisso israelense claro para aliviar a situação dos civis na Faixa de Gaza, onde 2,3 milhões de palestinos estão sob cerco total, sem acesso a alimentos, combustível, água ou suprimentos médicos.
Os militares israelenses anunciaram na quarta-feira que a ajuda humanitária seria disponibilizada em uma "zona humanitária" em Al-Mawasi, no litoral sul da Faixa de Gaza, perto da fronteira com o Egito. Não foi explicado como a ajuda chegaria até lá.