Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro, sem citar nominalmente o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, cobrou nesta terça-feira que o presidente da corte, Luiz Fux, enquadre o colega de tribunal e ameaçou que, se isso não ocorrer, o Poder Judiciário poderá sofrer aquilo que "nós não queremos".
"Nós também não podemos continuar aceitando que uma pessoa específica da região dos Três Poderes continue barbarizando a nossa população", disse Bolsonaro em discurso a milhares de apoiadores feito de um carro de som na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, neste 7 de Setembro.
"Não podemos aceitar mais prisões políticas no nosso Brasil. Ou o chefe deste Poder enquadra o seu ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos, porque nós valorizamos, reconhecemos e sabemos o valor de cada Poder da República", emendou Bolsonaro.
Um trecho do discurso de Bolsonaro foi divulgado em seu perfil no Facebook). Não houve transmissão ao vivo.
Alexandre de Moraes é o ministro do STF responsável por conduzir investigações sensíveis contra o próprio presidente e aliados dele, tendo determinado prisões, buscas e apreensões e bloqueios de bens de pessoas e entidades que supostamente pretendiam realizar atos antidemocráticos no 7 de Setembro.
No discurso divulgado, Bolsonaro disse que não mais aceitará que "qualquer autoridade, usando a força do poder, passe por cima da nossa Constituição".
"Não mais aceitaremos qualquer medida, qualquer ação ou qualquer sentença que venha de fora das quatro linhas da Constituição", afirmou.
No fim do trecho divulgado, o presidente deu um ultimato: "Nós todos, aqui na Praça dos Três Poderes, juramos respeitar a nossa Constituição. Quem age fora dela se enquadra ou pede para sair", disse.
Em uma rede social, o ministro Alexandre de Moraes escreveu: "Nesse Sete de Setembro, comemoramos nossa Independência, que garantiu nossa Liberdade e que somente se fortalece com absoluto respeito a Democracia."
O presidente vinha fazendo uma convocação para as manifestações do 7 de Setembro, quando se comemora o Dia da Independência, na busca de uma grande demonstração de força política e popular. Normalmente, há desfile militar no país, mas este ano esses atos foram suspensos por causa da pandemia de Covid-19.
Ao mesmo tempo que houve um grande esforço para chamar pessoas às manifestações a favor de Bolsonaro, grupos de oposição também programaram vários atos contra o presidente, entre eles em São Paulo e Brasília.
Antes de subir ao carro de som e fazer o discurso, o presidente participou de cerimônia de hasteamento da bandeira na Praça da Bandeira.