Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro negou nesta segunda-feira que tenha cometido prevaricação no caso das supostas irregularidades na negociação para a compra da vacina indiana contra Covid-19 Covaxin, afirmando que encaminhou a denúncia para o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que não encontrou qualquer fraude.
"O que eu entendo é que a prevaricação se aplica a servidor publico, não se aplicaria a mim. Mas qualquer denuncia de corrupção eu tomo providência", disse o presidente a jornalistas nesta segunda-feira, dizendo que conversou com Pazuello sobre o tema, mas que o então ministro "viu que não tem nada errado".
"Ninguém prevaricou", acrescentou.
Bolsonaro disse que foram feitas correções necessárias em incoerências no processo e repetiu a tese já adotada pelo governo que ao final nenhum real foi gasto com a Covaxin e nenhuma dose adquirida.
O caso rendeu um inquérito aberto pela Polícia Federal por possível crime de prevaricação de Bolsonaro. A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), cuja solicitação decorreu de notícia-crime enviada por senadores de oposição.
De acordo com os parlamentares, Bolsonaro não teria tomado providências após ser alertado pelo deputado Luis Miranda (DEM-DF) e pelo irmão dele, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, sobre supostas irregularidades nas tratativas para compra de doses da vacina Covaxin.
O presidente, no entanto, afirma que tomou providência sobre o caso, que se tornou um dos focos principais das investigações da CPI da Covid do Senado. Na entrevista desta segunda-feira, Bolsonaro disse ter passado "para frente" documentos levados pelo irmãos Miranda eles sobre o caso.
Questionado na entrevista sobre uma suposto áudio da conversa que teve com os irmãos Miranda no Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse que seria crime se o encontro tiver sido gravado, e afirmou que, pelo que se lembra, nada do que foi tratado com Miranda "teve a ênfase que ele vem dizendo".
"Olha só, primeira coisa, se houve gravação, isso é crime", apontou o presidente. "Vamos bater um papo, nós vamos falar de abobrinha, vai falar da vida do outro, do colega isso, colega aquilo. É justo alguém gravar e levar isso para frente?"
Bolsonaro recusou-se a revelar o teor da conversa na entrevista ou confirmar se mencionou o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), como suposto envolvido nas negociações da Covaxin, conforme relatado por Miranda em depoimento à CPI.
"Eu não vou te falar absolutamente nada do que foi tratado lá porque era uma conversa reservada", disse.
Afirmou, ainda, que a decisão de divulgar ou não o áudio cabe à consciência de Miranda.
Questionado, o presidente levantou dúvida sobre a continuidade de Barros na liderança do governo, mas defendeu que seja dado um "crédito" a ele enquanto não há provas que sustentem as acusações. Bolsonaro explicou que vai aguardar depoimento do deputado à CPI, previsto para 20 de julho. O líder do governo afirma que jamais participou de negociação de compra da Covaxin.
"Ele depondo, a gente conversa depois. Eu tenho que dar um crédito pra ele", disse.
Sobre o inquérito aberto pela PF, Bolsonaro disse que "quanto mais rápido" se desenrolar, "melhor".