Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - Sem citar explicitamente o Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Jair Bolsonaro fez um apelo neste sábado para que o Judiciário reveja as atitudes de ministros que, segundo ele, estariam prejudicando o Brasil, e ainda disse que, caso isso não ocorra, a tendência é de uma ruptura.
"Não podemos deixar que um ou dois homens ameacem a nossa democracia ou a nossa liberdade", disse Bolsonaro, após motociata em Santa Cruz do Capibaribe (PE), sem citar nominalmente os ministros do STF Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, que têm sido alvos constantes do presidente nas últimas semanas.
Moraes conduz inquéritos que investigam Bolsonaro e aliados, enquanto Barroso, que também é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), se opõe ao voto impresso para urnas eletrônicas, uma das principais bandeiras do chefe do Executivo.
Segundo Bolsonaro, todos seus 23 ministros jogam dentro do que chama de "quatro linhas da Constituição" e na hipótese de um deles sair destas regras, este seria imediatemente "enquadrado" e demitido.
Com base nesta premissa, Bolsonaro também sugeriu que ministros do STF sejam "enquadrados" por não cumprirem, segundo ele, a Constituição.
"Se assim não acontecer em nenhum dos Três Poderes, a tendência é uma ruptura. Ruptura que eu não quero, nem desejo", afirmou o presidente, que já admitiu que poderia atuar fora das "quatro linhas da Constituição".
"Apelo a esse outro Poder que reveja a ação dessa pessoa que está prejudicando o futuro do Brasil", reforçou.
Bolsonaro afirmou ainda que, acima dos Poderes Executivo, Judiciário e Legislativo, estaria o poder do povo, na posição de "poder moderador".
Desta forma, o povo, enquanto poder moderador, não poderia admitir que nenhum dos demais Poderes descumpra a Constituição e convocou a população para as manifestações marcadas para 7 de setembro.
"Tenho certeza que o retrato da Esplanada (em Brasília), onde estarei de manhã, e na avenida Paulista (em São Paulo), onde estarei à tarde, mostrará a esses que ousam não mais se submeter à Constituição... Eles serão colocados em seu devido lugar... Ninguém pode ignorar o povo brasileiro."
Em um momento em que as pesquisas apontam para perda de sua popularidade e em que tensiona cada vez a relação com o STF, Bolsonaro vem colocando todas as suas fichas em fazer dos atos de 7 de setembro em Brasília e em São Paulo uma demonstração de força e de apoio popular.
Na véspera, Bolsonaro disse que as manifestações de seus apoiadores no feriado da Independência, na próxima terça-feira, serão um "ultimato" para aqueles que, segundo o presidente, descumprem a Constituição.