MADRI (Reuters) - O cineasta Carlos Saura, que liderou o despertar do cinema de arte da Espanha após décadas da ditadura fascista de Francisco Franco e cativou audiências internacionais com dramas apaixonados e coreografias flamencas, morreu nesta sexta-feira. Ele tinha 91 anos.
A Academia Espanhola de Ciências e Artes Cinematográficas disse que Saura morreu em casa cercado de seus entes queridos. Ele receberia um prêmio honorário Goya da academia em sua cerimônia anual no próximo sábado.
O ator e diretor Antonio Bandeiras, um dos rostos mais conhecidos da Espanha, escreveu no Twitter que uma “parte imensamente importante do cinema espanhol morreu com Carlos Saura, que deixa para trás uma obra essencial para a profunda reflexão dos comportamentos do ser humano”.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, tuitou: “Carlos Saura nos deixa, uma figura fundamental da cultura espanhola”.
Embora os críticos o relacionem ao sueco Ignmar Bergman por causa de uma preocupação similar com sonhos, simbolismo e morte, Saura lidou com temas intrinsicamente espanhóis, muitas vezes evocando a Guerra Civil de 1936-1939 e a ditadura de Franco que veio em seguida e terminou em 1975.
Seus filmes foram muito populares na Espanha, mas foi sua produção de 1983, “Carmen” --um drama dentro de um drama envolvendo um grupo de dança, vagamente baseado na ópera de Georges Bizet-- que lhe rendeu sucesso comercial ao redor do mundo.
“Carmen” ganhou prêmios em festivais de cinema, incluindo Cannes, e foi uma continuação da colaboração de Saura com o coreógrafo Antonio Gades, que havia começado em 1980 com uma versão dançante da peça de Federico García Lorca, “Bodas de Sangue”.
Junto com “Amor Bruxo”, de 1986, essas obras fazem parte da Trilogia Flamenca de Saura, filmadas como produções teatrais, ou até mesmo ensaios, com mínima cenografia.
Saura ganhou fama internacional pela primeira vez com “Cria Cuervos” em 1977, um tratamento simbólico da morte e da sociedade espanhola pelos olhos de uma jovem garota e estrelando a sua musa e esposa Geraldine Chaplin como a mãe dela.
Saura, cujos filmes compartilharam um tema comum de amor destrutivo e obsessivo, casou três vezes e viveu com Geraldine Chaplin por 13 anos. Ela trabalhou em vários roteiros com Saura e estrelou metade dos seus filmes até eles se separarem em 1979.
Admirado pelo cineasta norte-americano Stanley Kubrick, encontrou sua crítica da cultura burguesa e do uso de fantasia e flashbacks no surrealista Luis Bunuel, conterrâneo de Aragão e amigo pessoal próximo.
De óculos e introspectivo, Saura cultivou uma imagem hermética e estava mais preocupado com a autoexpressão do que com os lucros. Um crítico uma vez disse que ele lembrava um estudante seminarista mais que um membro do mundo do cinema.
“Para mim, o cinema é um tipo de droga, uma obsessão”, disse Saura, uma vez. “O que eu gosto é que é um prazer solitário.”
Influenciado por neorrealistas italianos, ele nunca perdeu sua preocupação inicial com questões sociais e condenou a censura sob o governo de Franco, mas nunca se considerou um artista político.
(Reportagem de Andrei Khalip e David Cutler)