(Reuters) -O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira que os compromissos climáticos firmados no Acordo de Paris são "insuficientes" para garantir um limite seguro para o aumento da temperatura global, e alertou para o risco de savanização na Amazônia, mesmo sem desmatamento, se outros países não fizerem sua parte no combate às mudanças climáticas.
"O último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) é categórico sobre o perigo de um aumento na temperatura global superior a 1,5ºC. A meta do Acordo de Paris, de mantê-lo entre 1,5ºC e 2ºC já é insuficiente para conter o aquecimento global em nível seguro. Temos um problema coletivo de inação, outro de falta de ambição", disse Lula no primeiro painel de chefes de Estado da conferência do clima COP28, em Dubai.
O presidente apontou que as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês), compromissos que os países assumiram em relação às mudanças climáticas, não estão sendo implementadas em um ritmo adequado, e lembrou que o Brasil ajustou a sua meta, que é mais ambiciosa que a de muitos países desenvolvidos.
No entanto, afirmou, vários países do chamado Sul Global não terão condições de implementar as suas, e muito menos de apresentar metas maiores. Para isso, cobrou, é preciso que as promessas de financiamento sejam cumpridas.
"Os mais vulneráveis não podem ter que escolher entre combater a mudança do clima e combater a pobreza. Terão que fazer ambos. O princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas, é inegociável. Ameaçá-lo vai na contramão de qualquer noção básica de justiça climática", disse.
Lula reafirmou o compromisso do Brasil com desmatamento zero até 2030, mas alertou que, mesmo que não se derrube mais uma árvore na Amazônia, a região pode ainda assim passar por um processo de savanização por conta do aumento da temperatura no mundo se os demais países não fizerem sua parte.
O chamado ponto de não retorno acontece quando a floresta perde sua capacidade de regeneração. O desmatamento e o aumento da temperatura na terra contribuem para o risco. De acordo com o IPCC, partes da Amazônia já passam pela savanização, com cerca de 6 milhões de hectares próximos ao ponto de não retorno.
"É por isso que o Brasil está propondo a Missão 1.5, uma missão coletiva que vai nos manter na trilha do 1,5ºC. Nos dois anos até a COP30, será necessário redobrar os esforços para implementar as NDCs que assumimos. E, em Belém, precisamos anunciar NDCs mais ousadas e garantir os meios de implementação necessários para concretizá-las", disse o presidente, cobrando ainda mais incentivos para os países em desenvolvimento promoverem medidas de combate às mudanças climáticas.
O Brasil vai sediar em 2025, em Belém, a COP30, a primeira cúpula do clima da ONU a ser realizada no país.
"Se não deixarmos nossas diferenças de lado em nome de um bem maior, a vida no planeta estará em perigo. E será tarde demais para chorar", encerrou.
(Por Lisandra Paraguassu, em BrasíliaEdição de Pedro Fonseca e Eduardo Simões)