Por Philip Pullella
ROMA (Reuters) - O conflito em Gaza ofuscava nesta segunda-feira uma importante conferência do Vaticano sobre o Holocausto, com uma participante chamando a carnificina de o pior massacre de judeus civis em um dia desde então.
A conferência foi organizada após a abertura, em 2020, dos arquivos do Vaticano sobre o pontificado de Pio 12, que levou à descoberta de uma carta mostrando que ele sabia detalhes sobre a tentativa nazista de exterminar os judeus no Holocausto em 1942.
O cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, alterou seus comentários iniciais preparados para mencionar o "ataque terrível e desprezível" contra "irmãos e irmãs israelenses".
Parolin disse: "Infelizmente, a violência, o terrorismo, a barbárie e o extremismo minam as aspirações legítimas de palestinos e israelenses".
Riccardo Di Segni, o rabino chefe de Roma, disse: "Os meus pensamentos estão mais lá do que aqui".
Dois oradores do Centro de Memória do Holocausto Yad Vashem, de Israel, cancelaram as suas presenças na conferência de três dias, que reúne historiadores e teólogos para abordar as relações judaico-cristãs após a abertura dos arquivos.
A professora Deborah E. Lipstadt, enviada especial dos Estados Unidos para monitorar e combater o antissemitismo, e que ganhou um caso histórico em Londres contra David Irving, negacionista do Holocausto, em 1996, estava na primeira fila.
"É o maior número de judeus mortos em um dia desde o Holocausto", disse ela à Reuters durante um intervalo na conferência, afirmando que o recorde anterior de civis mortos era um bombardeio a um centro comunitário judaico em Buenos Aires que matou 85 pessoas e feriu centenas em 1994.
"Eles (os atiradores do Hamas) gritavam 'Jahud, Jahud', (judeu em árabe). Não diziam 'israelita'. O antissemitismo público que ouvimos da parte de apoiadores é significativo, espantoso", afirmou.
A Kan TV israelense disse que o número de mortos no ataque do Hamas havia subido para 800. Enquanto isso, Israel prosseguiu com os ataques de retaliação, que já mataram mais de 500 pessoas desde sábado.
Parolin também mencionou os palestinos deslocados e feridos, dizendo que "nossa proximidade e orações também vão para suas famílias e todos os civis, totalmente inocentes".
Os defensores de Pio dizem que ele trabalhou nos bastidores para ajudar os judeus e não se manifestou para evitar o agravamento da situação dos católicos na Europa ocupada pelos nazistas. Seus detratores dizem que ele não teve coragem de se manifestar sobre as informações que tinha, apesar dos apelos das potências aliadas que lutavam contra a Alemanha.
A conferência foi organizada conjuntamente por Vaticano, Yad Vashem, Departamento de Estado dos EUA, Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos e vários grupos judaicos.