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Relação Brasil-Israel fica estremecida após declaração do Mossad sobre ação contra Hezbollah

Publicado 09.11.2023, 11:32
Atualizado 09.11.2023, 15:35
© Reuters. Ministro Flávio Dino em Brasília
 1/11/2023   REUTERS/Adriano Machado

Por Gabriel Stargardter e Lisandra Paraguassu

RIO DE JANEIRO/BRASÍLIA (Reuters) - Uma declaração incomum da agência de espionagem israelense Mossad afirmando que ajudou a impedir um ataque do Hezbollah em território brasileiro se tornou o mais recente incidente a prejudicar as relações entre Israel e Brasil, tendo como pano de fundo o conflito em Gaza.

Na quarta-feira, a Polícia Federal prendeu duas pessoas acusadas de terrorismo como parte de uma operação para desmontar uma suposta célula do Hezbollah que planejava ataques no Brasil. Mais tarde, o Mossad agradeceu publicamente à PF e disse que, "dado o pano de fundo da guerra em Gaza", o Hezbollah continuava atacando alvos israelenses, judeus e ocidentais.

Os comentários do Mossad irritaram o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, que respondeu com uma dura repreensão a Israel nesta quinta-feira na plataforma X, dizendo que "o Brasil é um país soberano" e que "nenhuma força estrangeira manda na Polícia Federal do Brasil".

Ele não negou explicitamente qualquer detalhe da declaração israelense, mas pareceu mais irritado com o momento, o tom e a ligação com a atual guerra em Gaza.

Dino afirmou que as investigações que resultaram nas operações de quarta-feira "começaram ANTES da deflagração das tragédias em curso na cena internacional", e disse que a investigação "nada tem a ver com conflitos internacionais".

"Apreciamos a cooperação internacional cabível, mas repelimos que qualquer autoridade estrangeira cogite dirigir os órgãos policiais brasileiros, ou usar investigações que nos cabem para fins de propaganda de seus interesses políticos", escreveu ele.

O governo de Israel não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

Uma fonte da PF disse que Dino ficou irritado porque a declaração do Mossad fez parecer que o Brasil estava recebendo ordens de Israel, o que poderia ser percebido como se estivesse tomando partido na guerra.

Em nota, a PF repudiou as declarações feitas por "autoridades estrangeiras" sobre a operação e disse que "cabe exclusivamente às instituições brasileiras definir os encaminhamentos e conclusões sobre fatos investigados em território nacional".

Os comentários de Dino podem piorar as relações com o governo israelense no momento em que o Brasil tenta negociar uma saída segura para cerca de 30 brasileiros ainda presos em Gaza.

O Brasil tem se irritado cada vez mais com Israel devido à lentidão na libertação, segundo duas fontes. O Ministério das Relações Exteriores disse a Israel nesta semana que a relação diplomática se tornaria insustentável se qualquer dano acontecesse aos brasileiros, disseram as fontes.

Diplomatas brasileiros disseram à Reuters que não conseguiam entender por que Israel estava demorando para libertá-los, enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem equilibrado as críticas aos ataques do Hamas com pedidos de cessar-fogo.

Um número cada vez maior de países latino-americanos tem assumido uma posição mais dura em relação a Israel por causa do bombardeio retaliatório em Gaza após os ataques do Hamas em 7 de outubro. No final do mês passado, a Bolívia cortou os laços diplomáticos com Israel, enquanto a Colômbia e o Chile repatriaram seus embaixadores.

O governo brasileiro também ficou irritado quando o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, durante uma visita ao Congresso na quarta-feira, tirou fotos sentado ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros políticos de extrema-direita antes de uma reunião privada.

© Reuters. Ministro Flávio Dino em Brasília
 1/11/2023   REUTERS/Adriano Machado

Em uma entrevista ao jornal O Globo após a operação da PF na quarta-feira, Zonshine disse que "se (o Hezbollah) escolheu o Brasil, é porque tem gente que os ajuda".

Nesta quinta-feira, o chefe da PF, Andrei Rodrigues, disse à imprensa que os comentários de Zonshine foram uma "surpresa negativa e um "mal-estar".

O Hezbollah, um grupo apoiado pelo Irã no Líbano, não pôde ser contatado imediatamente para comentar o assunto, nem o governo iraniano.

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