Por Lucila Sigal
BUENOS AIRES (Reuters) - Um documentário argentino baseado em centenas de horas de gravações audiovisuais de um julgamento de líderes da sangrenta ditadura militar do país em 1985 fará sua estreia internacional no domingo no Festival de Cinema de Berlim.
O lançamento de "El Juicio" coincide com o 40º aniversário do retorno da democracia na Argentina, após a ditadura que governou o país entre 1976 e 1983 que deixou até 30.000 pessoas mortas ou desaparecidas, segundo organizações de direitos humanos.
O filme é o segundo a abordar o tema nos últimos meses, após o lançamento do longa "Argentina, 1985", indicado ao Oscar de melhor filme internacional após ganhar o Globo de Ouro no mês passado.
O julgamento foi a única vez que um governo democrático lançou uma ação judicial civil em larga escala contra ex-governantes ditatoriais. O caso foi um divisor de águas para a Argentina.
"Há muito poucas ou talvez nenhuma sociedade que tenha feito um processo de justiça como o que a Argentina fez", disse o diretor Ulises De la Orden, que meticulosamente analisou 500 horas de filmagem bruta para criar um documentário de quase três horas.
"Também foi logo depois (do fim da ditadura), isso é o mais interessante. Aqueles comandantes, aqueles ditadores ainda tinham influência."
O diretor de 51 anos disse à Reuters que espera que o documentário aproxime a história das gerações mais jovens e inspire outros processos judiciais.
"Não tenho certeza se nossa juventude sabe muito sobre o que aconteceu conosco nos anos 1970", afirmou ele após uma exibição do filme em Buenos Aires com a presença de juízes do caso e do único promotor que atuou no caso e ainda está vivo.
Luis Moreno Ocampo, então promotor assistente que mais tarde se tornou o promotor-chefe do Tribunal Penal Internacional, diz que o documentário carrega uma mensagem poderosa.
"Acho super importante um filme que nos mostre a diferença entre tratar as pessoas como cidadãs, inclusive comandantes que cometeram crimes, dar-lhes direitos e respeitar seus direitos, contrastando com o que eles fizeram, que tratavam suspeitos ou pessoas de quem não gostavam e as torturavam e os matavam”, disse Moreno Ocampo.