VARSÓVIA (Reuters) - Centenas de milhares de manifestantes se reuniram em Varsóvia neste domingo, no 34º aniversário da primeira eleição democrática do pós-guerra na Polônia, para uma marcha que a oposição liberal anunciou como um teste de sua capacidade de acabar com quase oito anos de nacionalismo na eleição deste ano.
Multidões marcharam com faixas com os dizeres "Livre, Polônia Europeia" e "União Europeia sim, PiS não", referindo-se ao partido governista Lei e Justiça (PiS).
Alguns seguravam máscaras do líder do partido no poder, Jaroslaw Kaczynski, com a palavra "vergonha" escrita nelas. De acordo com os organizadores, quinhentas mil pessoas participaram das manifestações. A polícia e as autoridades da cidade não forneceram uma estimativa. Milhares de pessoas também realizaram passeatas em outras cidades e vilas polonesas.
"Participei de muitas passeatas, mas nunca vi um protesto deste tamanho, com tanta energia, sinto que é um avanço como o de 4 de junho de 1989", disse Jacek Gwozdz, de 51 anos, especialista em TI, em Varsóvia.
Pesquisas de opinião mostram que uma eleição prevista para depois do verão europeu será acirrada, com a guerra da Rússia na vizinha Ucrânia dando um impulso ao governo Lei e Justiça (PiS), que emergiu como uma voz importante contra o Kremlin na Europa.
A oposição tem lutado para levantar apoio, apesar das críticas generalizadas em casa e no exterior ao PiS, acusado de corroer o estado de direito, transformando a mídia estatal em porta-voz do governo e endossando a homofobia.
O governo do primeiro-ministro Mateusz Morawiecki nega subverter quaisquer normas democráticas e diz que seu objetivo é proteger os valores cristãos tradicionais contra as pressões liberais do Ocidente e tornar a economia mais justa.
Donald Tusk, chefe do grupo Plataforma Cívica e ex-presidente do Conselho da União Europeia, saudou os apoiadores dizendo que a voz dos poloneses não pode ser silenciada.
"A democracia morre em silêncio, mas vocês levantaram a voz pela democracia hoje, o silêncio acabou, vamos gritar", disse ele em um discurso no final da marcha.
"Há meio milhão de pessoas nas ruas de Varsóvia, é um recorde absoluto", disse ele à multidão que lotava a Praça do Castelo, na capital da Polônia.
Tusk pediu unidade, apesar das diferenças políticas na oposição, e prometeu vitória nas eleições que serão realizadas em outubro ou novembro.
Em junho de 1989, uma votação parcialmente livre deu a vitória a um governo liderado pelo sindicato Solidariedade e desencadeou uma série de eventos que culminaram na queda do Muro de Berlim, em novembro.