Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O governo brasileiro não pretende fazer qualquer tipo de retratação da fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que comparou os ataques de Israel na Faixa de Gaza com o Holocausto praticado pela Alemanha nazista, mas não entrará em troca de acusações com os israelenses, disseram à Reuters fontes que acompanham as discussões internas sobre o assunto.
Apesar de setores do governo admitirem que a comparação feita pelo presidente no domingo pode não ter sido a mais adequada, a análise é que Lula não minimizou o Holocausto. Ao mesmo tempo, a reação do governo do premiê israelense, Benjamim Netanyahu, é vista como uma tentativa de desviar o foco dos ataques cada vez mais mortíferos na Faixa de Gaza e tentar galvanizar apoio internacional.
“O governo brasileiro não vai entrar nesse jogo”, disse uma das fontes.
Pela manhã, Lula teve uma reunião com o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, e o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta, para analisar a repercussão da fala feita na véspera em viagem à África e qual deveria ser a resposta do governo brasileiro.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, já está no Rio de Janeiro para o encontro de chanceleres do G20 desta semana e conversou com o presidente por telefone.
A ordem do presidente é de que não haverá retratação, como gostaria o governo israelense, e que eventuais respostas serão dadas pela via diplomática, disseram as fontes.
Mais cedo nesta segunda, o chanceler de Israel, Israel Katz, convocou o embaixador brasileiro em Tel Aviv para uma reprimenda. A maneira como foi feita a convocação do embaixador Frederico Meyer foi considerada desrespeitosa e muito acima do tom, o que levou o Brasil e chamar Meyer de volta a Brasília para consultas, sem prazo determinado para voltar ao posto.
Em vez de ser chamado à sede da chancelaria israelense, como é a praxe diplomática, Meyer teve de ir ao encontro do ministro das Relações Exteriores Israel Katz no Museu do Holocausto, em um movimento considerado fora do tom. Mais do que isso, com o embaixador brasileiro a seu lado, Katz declarou, em hebraico, que Lula passava a ser persona non grata em seu país até que pedisse desculpas.
Sem entender a língua -- e sem tradução -- Meyer só soube o conteúdo da fala do chanceler israelense depois do encontro.
Segundo uma das fontes, a conversa em particular entre Katz e o embaixador brasileiro seguiu a linguagem tradicional diplomática, o que deu a certeza ao governo brasileiro que a intenção era o constrangimento.
A decisão, no entanto, é manter a resposta aos ataques de Israel dentro dos trâmites diplomáticos, daí a decisão de chamar de volta ao Brasil o embaixador em Israel e também convocar o embaixador israelense no Brasil para dar esclarecimentos na tarde desta segunda.