Muito se especula sobre se o Banco Central vai aumentar a taxa Selic na próxima reunião do Copom, agendada para os dias 5 e 6 de novembro, ou se haverá manutenção do percentual atual, de 10,75% ao ano. O fato é que existem sim, componentes econômicos que justificam a elevação da taxa básica de juros, mas no meu entender não é exatamente a questão da demanda como muitos dizem.
Vejamos. O último levantamento do IBGE sobre produção industrial, divulgado no início de outubro, mostra que a produção industrial cresceu 0,1% em agosto. Número positivo, mas irrisório se considerarmos que em julho o resultado do mesmo setor havia sido negativo em 1,4%. Ou seja, caiu para depois ter uma pequena recuperação. O percentual, aliás, ficou dentro das projeções do mercado.
No geral, a economia demonstra estar caminhando bem. A taxa de emprego continua elevada, o que eleva o poder de compra da população. E diversos analistas de mercado demonstram preocupação justamente com isso: o aumento do emprego e da renda que em tese aumentaria o consumo fazendo a inflação aumentar.
E se existe essa possibilidade de aumento dos preços, certamente o Banco Central vai elevar a taxa de juros, o remédio mais ortodoxo que existe para evitar a disparada dos preços. Teoricamente não está errado. A demanda alta pode sim influenciar na elevação inflacionária, mas se ficarmos presos somente a este componente, além de nós, analistas de mercado, aumentarmos a margem de erro em nossas previsões, o país em si ficará preso em um círculo nada virtuoso que simplesmente o impedirá de crescer.
Reforço aqui que o componente “inflação de demanda”, que está ligado ao consumo, está ligado à produção industrial, está ligado ao emprego e está ligado inclusive à própria inflação, é sim, importante, fundamental, mas não foi o que fez a taxa de juros voltar a subir. Nem é o que fará ela subir de novo na reunião de novembro.
O verdeiro responsável pela elevação da Selic e pelo viés de alta do momento é o componente monetário. Como o Tesouro Nacional explica em seu site, “dívida Pública Federal (DPF) refere-se a todas as dívidas contraídas pelo Governo Federal para financiamento do seu déficit orçamentário, nele incluído o refinanciamento da própria dívida, e para outras operações com finalidades específicas, definidas em lei”.
Para conter esse déficit, o Banco Central se vê obrigado a emitir títulos do Tesouro, papéis comerciais e certificados de depósitos. Como a dívida é crescente, aumenta o risco país e obriga o BC a aumentar os juros para tornar esses títulos mais interessantes para os investidores. Então, temos de ficar de olho nesse déficit para a gente entender qual pode ser a próxima decisão do Copom e do Banco Central. Eu, particularmente, acredito na manutenção da taxa ou até em um novo aumento. Mas certamente o aumento da demanda não é o principal fator para a alta.