Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou nesta segunda-feira que os atos de vandalismo e depredação das sedes dos Três Poderes da República no domingo foram incentivadas por discursos de ódio proferidos por líderes políticos, citando como exemplo falas antidemocráticas e ataques do ex-presidente Jair Bolsonaro a instituições do Estado.
Para o ministro, palavras proferidas por Bolsonaro e seguidores resultaram na migração dos ataques virtuais para a vida real, com a intenção de gerar um "efeito dominó" que resultasse em um golpe de Estado.
"Em uma análise política é óbvio... toda a nação brasileira sabe que durante esses anos todos o ex-presidente da República Jair Bolsonaro e todos aqueles que o seguem, por exemplo, dirigiram frequentes ataques contra o Supremo. E é nesse sentido que digo que palavras têm poder. Principalmente quando é a palavra de um presidente da República", disse Dino em coletiva de imprensa.
"E o que nós vimos... foi que esse discurso frequente nas redes sociais ganhou pernas, braços, pedras, tiros, bombas, exatamente ontem. Então é como se fosse a migração do universo do ódio das redes sociais para a vida material."
Na véspera, Dino disse em entrevista coletiva à noite não identificar, por ora, qualquer "elemento de responsabilidade jurídica do ex-presidente da República", mas já havia antecipado a avaliação de que politicamente essa responsabilidade é clara.
Ao comparar os atos de vandalismo aos ataque de 6 de janeiro ao Capitólio dos Estados Unidos, Dino comemorou as cerca de 1.500 detenções já promovidas --dentre manifestantes na Esplanada dos Ministérios e acampados no QG do Exército.
Segundo o ministro, devem ser abertos três inquéritos para apurar os danos causados, um para cada prédio depredado no domingo: o Palácio do Planalto e as sedes do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional.
Para Dino, o episódio de domingo serviu para fortalecer um sentimento de união entre os Três Poderes, esferas de governo e instituições militares, que, destacou o ministro, mantiveram-se até o momento "leais à legalidade democrática".
O "teste", ou "stress institucional" foi ultrapassado, avaliou, mas isso não significa que o extremismo tenha sido extirpado da sociedade brasileira, apenas "mais uma vez derrotado" e se manterá latente.
Por isso mesmo, há uma determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que todos os atos sejam apurados, em uma tentativa de evitar novos eventos como o de domingo.
Dino informou que deve ser editada uma portaria para reforçar o contingente da Força Nacional de Segurança Pública, que atua na segurança da Esplanada dos Ministérios.
Ainda não é possível distinguir detalhes sobre o financiamento desses atos, mas Dino disse que as investigações já detém os nomes dos contratantes de ônibus que levaram os manifestantes a Brasília. A ideia das investigações é chegar aos organizadores e financiadores dos atos da véspera.
O ministro citou que há várias possibilidade de enquadramento, dentre elas os crimes de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado de patrimônio público e de patrimônio tombado, associação criminosa, e lesões corporais.