Por Nidal al-Mughrabi e Emily Rose
GAZA/JERUSALÉM (Reuters) - O grupo islâmico Hamas disse nesta sexta-feira que libertou duas reféns norte-americanas -- mãe e filha -- pelo que chamou de "razões humanitárias", após esforços de mediação do Catar.
O porta-voz do braço armado do Hamas, Abu Ubaida, emitiu uma declaração anunciando a libertação, a primeira desde que homens armados do grupo militante invadiram Israel em 7 de outubro, matando 1.400 pessoas, a maioria civis, e fazendo cerca de 200 reféns.
As duas reféns norte-americanas libertadas estavam com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, afirmou uma fonte familiarizada com o assunto à Reuters.
Abu Ubaida disse que os reféns foram libertados em resposta aos esforços de mediação do Catar, “por razões humanitárias, e para provar ao povo americano e ao mundo que as alegações feitas por Biden e a sua administração fascista são falsas e infundadas”.
O Canal 13 News israelense disse que Israel confirmou a libertação de dois reféns, mas não deu mais detalhes.
No início desta sexta-feira, Israel arrasou um distrito do norte de Gaza, depois de dar às famílias um aviso de meia hora para fugirem, e atingiu uma igreja cristã ortodoxa onde outras pessoas estavam abrigadas.
Israel prometeu exterminar o Hamas, que governa Gaza, atacando incessantemente a faixa com ataques aéreos, colocando os 2,3 milhões de habitantes do enclave sob um cerco total e barrando o envio de alimentos, combustível e suprimentos médicos.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas visitou a passagem entre a Faixa de Gaza sitiada e o Egito, e disse que a ajuda humanitária precisa ser permitida o mais rápido possível.
Pelo menos 4.137 palestinos foram mortos, incluindo centenas de crianças, e 13.000 ficaram feridos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde palestino.
A ONU afirma que mais de um milhão de pessoas ficaram desabrigadas.
O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, disse nesta sexta-feira que atingir os objetivos de Israel não seria rápido nem fácil.
"Derrubaremos a organização Hamas. Destruiremos sua infraestrutura militar e governamental. É uma fase que não será fácil. Ela terá um preço", declarou ele a um comitê parlamentar.
Ele acrescentou que a fase subsequente seria mais demorada, mas tinha como objetivo alcançar "uma situação de segurança completamente diferente", sem nenhuma ameaça a Israel vinda de Gaza. "Não é um dia, não é uma semana e, infelizmente, não é um mês", disse.
IGREJA ATINGIDA
O Patriarcado Ortodoxo de Jerusalém, principal denominação cristã palestina, afirmou que durante a madrugada forças israelenses atacaram a Igreja de São Porfírio na Cidade de Gaza, onde centenas de cristãos e muçulmanos buscaram refúgio.
A denominação disse que atacar igrejas que são usadas como abrigos para pessoas que fogem de bombardeios é "um crime de guerra que não pode ser ignorado".
Um vídeo do local mostrou um menino ferido sendo carregado dos escombros durante a noite. Um funcionário da defesa civil disse que duas pessoas que estavam nos pisos superiores sobreviveram; as que estavam nos pisos inferiores foram mortas e seus corpos ainda estavam nos escombros.
"Eles acharam que estariam seguros aqui. Eles vieram do bombardeio e da destruição e disseram que estariam seguros aqui, mas a destruição os perseguiu", gritou um homem.
O escritório de mídia do governo do Hamas, em Gaza, informou que 18 palestinos cristãos foram mortos, enquanto o Ministério da Saúde, mais tarde, deu um número de 16 mortos.
Os militares israelenses disseram que parte da igreja foi danificada em um ataque de caças a um centro de comando do Hamas nas proximidades, e que estavam analisando o incidente. "As IDF (Forças de Defesa de Israel) podem afirmar inequivocamente que a igreja não era o alvo do ataque."
Israel já disse a todos os civis para se retirarem da metade norte da Faixa de Gaza, que inclui a Cidade de Gaza. Muitas pessoas ainda não saíram, dizendo que temem perder tudo e que não têm nenhum lugar seguro para ir, já que as áreas do sul também estão sendo atacadas.
AJUDA RETIDA
A atenção internacional tem se concentrado na ajuda para Gaza por meio do único ponto de acesso não controlado por Israel, a passagem de Rafah para o Egito. O presidente dos EUA, Joe Biden, que visitou Israel na quarta-feira, saiu com uma promessa de Israel de permitir carregamentos limitados a partir do Egito, desde que a ajuda seja monitorada para evitar que chegue ao Hamas.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, visitou o posto de controle do lado do Egito e pediu que um número significativo de caminhões entre em Gaza todos os dias e que os controles sejam rápidos e pragmáticos.
Até o momento, a maioria dos líderes ocidentais tem oferecido apoio à campanha de Israel contra o Hamas, embora haja um crescente desconforto com a situação dos civis em Gaza.
Muitos países muçulmanos, entretanto, pediram um cessar-fogo imediato, e protestos exigindo o fim do bombardeio foram realizados em cidades do mundo islâmico na sexta-feira.
O presidente turco, Tayyip Erdogan, pediu a Israel que encerre "suas operações que equivalem a genocídio".