Por Guy Faulconbridge e Andrew Osborn
MOSCOU (Reuters) - Mais de 60 pessoas morreram e 145 ficaram feridas nesta sexta-feira quando homens armados vestindo roupas camufladas abriram fogo com armas automáticas contra pessoas em uma casa de shows perto de Moscou, no pior ataque na Rússia em décadas.
O Estado Islâmico, grupo militante que já tentou controlar grandes regiões do Iraque e da Síria, reivindicou a responsabilidade pelo ataque, informou o grupo por meio de seu canal no Telegram.
Pelo menos cinco homens armados começaram a atirar na multidão que estava no Crocus City Hall pouco antes da apresentação do grupo de rock "Picnic", da época da União Soviética, no teatro com capacidade de 6.200 espectadores no subúrbio oeste de Moscou.
Vídeos verificados mostraram pessoas enquanto tomavam seus assentos para o show, e então correndo para a saída quando os sons de tiros soaram por cima dos gritos de desespero. Outro vídeo mostrou os homens atirando em um grupo de pessoas. Algumas vítimas ficaram deitadas e sem movimento em poças de sangue.
"De repente, ouvimos barulhos atrás de nós. Tiros. Uma rajada de tiros, eu não sabia o que era", disse à Reuters uma testemunha, que pediu para não ser identificada.
"Um tumulto começou e todo mundo correu para a escada rolante. Todo mundo estava gritando, todo mundo estava correndo."
Investigadores russos disseram que o número de mortos é superior a 60. Segundo as autoridades de saúde, cerca de 145 pessoas ficaram feridas, das quais 60 em estado grave.
O número de mortos transformou o ataque no mais mortal na Rússia desde o cerco a uma escola em Beslan, em 2004, quando militantes islâmicos tomaram mais de mil pessoas, inclusive centenas de crianças, como reféns.
CHAMAS
No Crocus City Hall, chamas puderam ser vistas no céu e uma coluna negra de fumaça saía do prédio, enquanto luzes azuis dos veículos de emergência iluminavam a noite, mostraram fotos e vídeos da Reuters.
Helicópteros tentaram apagar as chamas que tomaram grande parte da estrutura da casa de shows. O teto do edifício estava cedendo, informou a agência de notícias estatal RIA.
Alguns meios de comunicação russos publicaram uma imagem granulada de dois dos supostos atiradores em um carro branco.
O Estado Islâmico afirmou que seus combatentes atacaram os subúrbios de Moscou, "matando e ferindo centenas e causando grande destruição do local, antes de voltarem a suas bases em segurança", sem entrar em detalhes.
O presidente russo, Vladimir Putin, mudou o curso da guerra civil síria ao intervir, em 2015, apoiando o presidente Bashar al-Assad contra a oposição e o Estado Islâmico. O grupo reivindicou ataques mortais no Médio Oriente, Afeganistão, Paquistão, Irã, Europa, Filipinas e Sri Lanka.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, afirmou que se tratou de um "ataque terrorista sangrento" que o mundo inteiro deve condenar.
Os Estados Unidos, potências europeias e árabes e muitas antigas repúblicas soviéticas manifestaram o seu choque, condenaram o ataque e enviaram as suas condolências. O conselheiro presidencial ucraniano Mykhailo Podolyak negou qualquer envolvimento da Ucrânia.
ALERTA
Duas semanas atrás, a embaixada dos EUA na Rússia alertou que "extremistas" tinham planos iminentes de realizar um ataque em Moscou. O alerta foi emitido horas após o FSB anunciar que havia frustrado um ataque a uma sinagoga de Moscou, planejado por uma célula do Estado Islâmico.
Reeleito no domingo para um novo mandato de seis anos, o presidente Vladimir Putin enviou milhares de soldados à Ucrânia em 2022 e tem repetido que várias potências, incluindo países ocidentais, têm tentado semear o caos no território russo.
O Kremlin disse que Putin foi informado do ataque logo nos primeiros minutos e que tem sido constantemente atualizado dos fatos.
"O presidente recebe constantemente informações sobre o que está acontecendo e sobre as medidas sendo tomadas por todos os serviços relevantes. O chefe de Estado deu todas as instruções necessárias", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
A Rússia intensificou a segurança em aeroportos e estações em toda a capital, uma vasta região urbana que abriga 21 milhões de pessoas. Todos os eventos públicos de larga escala foram cancelados no país.
"Uma terrível tragédia ocorreu no Crocus City hoje", disse o prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin.
"Aos parentes das vítimas, eu sinto muito."
A Casa Branca afirmou nesta sexta-feira que as imagens do massacre na capital russa são difíceis de assistir.
"Nossos pensamentos obviamente estão com as vítimas desse terrível ataque", afirmou o porta-voz da Casa Branca, John Kirby.
(Reportagem da Reuters em Moscou, Tbilisi, Londres e Washington)