Por Catarina Demony e Miguel Pereira
LISBOA (Reuters) - Balançando bandeiras e segurando fotos de atrocidades do conflito, ucranianos se reuniram no lado de fora da embaixada brasileira em Lisboa nesta sexta-feira para protestar contra comentários recentes sobre a guerra na Ucrânia feitos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Pessoas morrem na Ucrânia todos os dias e precisamos de apoio internacional”, afirmou o presidente da Associação Ucraniana de Portugal, Pavlo Sadokha, dizendo que é “estranho” que um “presidente... que lutou pela democracia a vida inteira agora esteja do lado do totalitarismo”.
A associação de Sadokha entregou uma carta à embaixada brasileira para expressar sua insatisfação, que foi encaminhada ao embaixador do Brasil, Raimundo Carreiro, e ao ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo.
“O Brasil e o presidente Lula têm vocação pela paz e o presidente trabalhará para unir outros países para buscar uma alternativa para encerrar o conflito”, disse Macêdo a repórteres, após receber a carta.
Na terça-feira, a Ucrânia convidou Lula para uma visita, um dia depois dele se reunir com o ministro das Relações Exteriores da Rússia em Brasília.
Questionado se o presidente visitaria a Ucrânia, Macêdo disse que o assessor especial para assuntos internacionais de Lula, Celso Amorim, irá.
"O presidente Lula determinou e me orientou que dissesse que o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, ex-chanceler Celso Amorim, que esteve na Rússia, vai visitar a Ucrânia", disse Macêdo, acrescentando que não há uma data marcada.
Lula, que chegou a Portugal mais cedo nesta sexta para uma visita oficial de cinco dias, irritou muitos no Ocidente ao sugerir que tanto Ucrânia quanto Rússia tinham culpa pelo conflito que começou quando Moscou invadiu a vizinha em fevereiro de 2022.
Ele disse no último fim de semana que Estados Unidos e aliados europeus deveriam parar de fornecer armas à Ucrânia, dizendo que estavam prolongando a guerra.
Nos últimos dias, ele moderou a sua retórica, reafirmando a condenação à violação da integridade territorial da Ucrânia pela Rússia, e pediu novamente uma mediação para encerrar a guerra, uma iniciativa de paz que o governo da Ucrânia criticou por “tratar a vítima e o agressor” da mesma maneira.
Duas autoridades brasileiras disseram à Reuters na quinta-feira que Lula --querendo proteger a neutralidade do Brasil-- deve evitar críticas ao papel do Ocidente na guerra da Ucrânia durante sua visita a Portugal. Ele se reunirá com o presidente e o primeiro-ministro de Portugal no sábado.
A refugiada ucraniana Yana Kolomiiets, que está em Portugal há quatro meses, participou do protesto em Lisboa e disse que se sentiu “péssima” quando ouviu os comentários de Lula.
“Me deixou tão brava porque eu não sei como o presidente do Brasil pode apoiar Putin... esse assassino”, disse a mulher de 27 anos.
No lado de fora da embaixada, manifestantes levantaram cartazes dizendo “A Rússia é um Estado terrorista” e “Parem de matar nossas crianças”.
(Reportagem de Catarina Demony, Miguel Pereira e Pedro Nunes em Lisboa)