Por Jonathan Stempel e Luc Cohen
NOVA YORK (Reuters) - O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump foi condenado nesta sexta-feira por um tribunal do júri a pagar 83,3 milhões de dólares de indenização à jornalista E. Jean Carroll, que acusou o político de destruir sua reputação ao negar tê-la estuprado em um episódio ocorrido há quase três décadas.
Composto por sete homens e duas mulheres, o júri precisou de menos de três horas para chegar ao veredicto. A indenização excedeu em muito o mínimo de 10 milhões de dólares pedidos por Carroll. Os jurados decidiram que ela deve receber 18,3 milhões de dólares em danos compensatórios e 65 milhões de dólares em danos punitivos.
Carroll, que tem 80 anos, processou Trump em novembro de 2019 por ele ter negado, cinco meses antes, que a estuprou em meados dos anos 1990 no vestiário de uma loja de departamentos em Manhattan.
Trump, de 77 anos, afirmou que nunca ouviu falar dela, e que a escritora inventou a história para impulsionar as vendas de seu livro de memórias. Seus advogados afirmaram que Carroll queria apenas a fama.
Um outro júri já havia condenado Trump, em maio de 2023, a pagar 5 milhões de dólares em indenização a Carroll devido a uma negativa semelhante em outubro de 2022, decidindo que ele tanto difamou quanto abusou sexualmente da jornalista. Trump está recorrendo da decisão.
No julgamento atual, ela afirmou que Trump acabou com a sua reputação como jornalista respeitada e que os danos punitivos eram apropriados para impedir a repetição das negativas pelo ex-presidente.
O juiz distrital Lewis Kaplan, que presidiu os dois julgamentos, afirmou que o veredicto anterior era vinculativo para o segundo julgamento, o que significa que a única questão para os jurados era quanto Trump deveria pagar.
Trump, um republicano, usou o caso de Carroll e outras batalhas judiciais que enfrenta para impulsionar sua campanha pela Casa Branca na eleição de novembro, quando deve concorrer contra o democrata Joe Biden, atual presidente que o derrotou em 2020.
Trump lida com 91 acusações criminais em quatro indiciamentos, incluindo dois casos por supostamente ter tentado reverter ilegalmente sua derrota nas eleições de 2020. Ele se declarou inocente em todos os processos e disse ser vítima de mentiras com motivação política e de um sistema judicial fora de controle.
Durante o julgamento, Trump foi ouvido murmurando na corte que o caso era uma "fraude" e uma "caça às bruxas" e que ainda não sabia quem era Carroll, o que fez o juiz adverti-lo duas vezes para que ficasse quieto.
A advogada de Carroll, Roberta Kaplan — que não é parente do juiz — argumentou que Trump agiu como se estivesse acima da lei: "Este julgamento é para fazê-lo parar, de uma vez por todas. É hora de fazê-lo pagar de forma abundante", afirmou.
A advogada de Trump, Alina Habba, contra-argumentou dizendo que foi a publicação de trechos das memórias de Carroll pela revista New York que ocasionou os ataques a Carroll, não as negativas de Trump.
Trump deixou o tribunal durante a sustentação final de Roberta Kaplan, mas retornou quando Habba, sua advogada, falava.
(Reportagem de Jonathan Stempel e Luc Cohen, em Nova York)