Por Ana Mano
CAMPINAS, BRASIL (Reuters) - O Brasil, maior exportador mundial de carne de frango, está tomando precauções extras para proteger-se do vírus altamente patogênico da gripe aviária, que foi detectado esta semana entre aves silvestres no país depois de atingir várias nações vizinhas.
Quase 10 bilhões de dólares em exportações de carne de frango estariam em risco se o subtipo H5N1 da gripe aviária infectasse granjas comerciais no Brasil. A importância do Brasil como fornecedor de carne de aves e ovos para o mundo cresceu à medida que os importadores proíbem produtos vindos de nações afetadas pelo vírus.
Na segunda-feira, o único laboratório credenciado pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) na América Latina confirmou a detecção do H5N1 em duas aves silvestres Thalasseus acuflavidus, capturadas no Espírito Santo. Também foi detectado o vírus num Atobá-Pardo, da espécie Sula leucogaster, que estava sendo tratado num centro de reabilitação do Estado.
Por protocolo, veterinários do Espírito Santo coletaram amostras das aves no local e as enviaram ao laboratório de referência em Campinas, no interior de São Paulo.
"Todo o setor produtivo segue mobilizado para o monitoramento da situação identificada no Espírito Santo", disse a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), em comunicado.
Um caso de gripe aviária em uma granja geralmente resulta no sacrifício de todo o plantel por razões sanitárias, e pode desencadear restrições comerciais de países importadores, enquanto a detecção entre aves silvestres não provoca proibições sob as diretrizes da OMSA.
As autoridades brasileiras dizem não esperar que os casos descobertos em aves silvestres tenham qualquer impacto comercial, observando que o Espírito Santo não faz fronteira com nenhum dos principais Estados produtores de aves do país, no Sul.
Em outros países, os surtos de gripe aviária em aves selvagens têm sido frequentemente seguidos de transmissão para criações comerciais.
Surtos de gripe aviária contribuíram para preços mais altos de aves e ovos, que normalmente são fontes mais baratas de proteína.
O governo brasileiro este ano investiu 19 vezes mais recursos em sua rede de seis laboratórios federais; e aumentou o orçamento geral da Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) em cerca de 12%, para 209 milhões de reais.
"Para cada 1 real gasto no laboratório de Campinas, são evitadas potenciais perdas de cerca de 64 reais para a indústria da carne", disse Rodrigo Nazareno, coordenador geral dos Laboratórios Agropecuários do governo federal.
A Reuters visitou o laboratório de referência da OMSA em 25 de abril, antes do teste positivo desta semana. Os técnicos do laboratório já estavam em alerta máximo depois que mais de 75 surtos de gripe aviária altamente patogênica foram relatados em nove países da América Central e do Sul, muitos deles pela primeira vez.
À medida que os avicultores aumentaram o monitoramento, o Brasil viu um aumento de seis vezes nas notificações de casos suspeitos até o início de maio.
Drones em patrulha
Nas últimas semanas, o Brasil começou a usar drones para patrulhar áreas sensíveis, como o Pantanal, e implementou uma proibição estrita de visitas a granjas comerciais por pessoas não autorizadas.
Após a confirmação de casos nos vizinhos Argentina e Uruguai, o Brasil anunciou no final de março a suspensão de 90 dias de todos os eventos envolvendo a exposição de aves.
O Ministério da Agricultura disse à Reuters que mais testes podem ser necessários em um raio de 10 km dos casos no Espírito Santo, incluindo em animais de plantéis comerciais. O ministério manterá a vigilância ativa e passiva em aves silvestres em todo o país.
A receita de exportação de frango do Brasil saltou mais de 27% em dólares no ano passado, uma vez que as empresas locais se beneficiaram do surto global da gripe aviária, que abriu novos mercados.
A China e o Oriente Médio continuaram sendo grandes clientes. E a União Europeia, onde países como a França tiveram que sacrificar milhões de aves para conter surtos, aumentou os volumes de importação do Brasil em cerca de 23%, mostram dados da indústria.
Desde o início de 2022, as aves silvestres vêm espalhando o vírus altamente infeccioso mais longe e mais amplamente. Embora os humanos possam contrair o H5N1, esses casos permanecem raros, e as autoridades globais de saúde disseram que o risco para as pessoas é baixo.
O vírus chegou à América do Sul por meio de aves migratórias, disse Masaio Mizuno Ishizuka, professora titular sênior de Epidemiologia da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo.
Normalmente, as aves só transmitem a gripe aviária por cerca de cinco dias. Mas a presença do vírus em pequenos animais marinhos, que servem de alimento às aves migratórias, pode ter permitido sua disseminação mais ampla este ano, disse ela.
"O vírus é extremamente hábil em apresentar mutações para ampliar seu potencial de sobrevivência como espécie", alertou Ishizuka.
(Reportagem de Ana Mano)