Por Lisandra Paraguassu
BUENOS AIRES (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta segunda-feira que a popularidade do ex-presidente Jair Bolsonaro nas forças militares é um fenômeno difícil de ser explicado, mas ressaltou que cabe ao seu governo restabelecer a normalidade nessas instituições, que precisam agir como forças do Estado e não de um governo.
"Aconteceu um fenômeno no Brasil --se você me pedir que eu explique, eu não sei explicar--, mas o Bolsonaro conseguiu a maioria em todas as forças militares, das polícias dos Estados, à Polícia Rodoviária, uma parte da Polícia Militar e uma parte das Forças Armadas. Isso é reconhecido por qualquer cidadão que faça política no Brasil", disse Lula a jornalistas em entrevista coletiva conjunta com o presidente argentino, Alberto Fernández, em visita a Buenos Aires.
"Nós agora temos um papel de muita responsabilidade que é fazer com que o país volte à normalidade, e as forças policiais e as forças militares voltem à normalidade", acrescentou.
Segundo Lula, o ex-presidente "não respeitou a Constituição e não respeitou as Forças Armadas". Ex-capitão do Exército, por diversas vezes Bolsonaro se referiu às Forças Armadas como suas durante o governo.
O presidente comentou a troca no comando do Exército, dizendo que seu primeiro escolhido não funcionou e que agora tem um novo comandante que pensa "exatamente o mesmo" que ele sobre o papel institucional dos militares.
Lula exonerou no sábado o comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, e indicou para o cargo o general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, que era o comandante militar do Sudeste.
"Escolhi um comandante do Exército e não foi possível dar certo, eu tirei e escolhi outro comandante. E tive uma boa conversa com o comandante e ele pensa exatamente com tudo que eu tenho falado sobre a questão das Forças Armadas", disse Lula.
"As Forças Armadas não servem a um político, elas não existem para servir a um político, elas existem para garantir a soberania do nosso país, sobretudo contra possíveis inimigos externos e para garantir tranquilidade ao povo brasileiro e fazer outras coisas em funções de desastres que possam acontecer no nosso país."
O anúncio oficial da troca no comando do Exército foi feito pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, que falou em "fratura no nível de confiança" na relação com o comando do Exército após os episódios dos acampamentos de bolsonaristas na porta de quartéis e dos ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília no dia 8 de janeiro.
Lula também ecoou comentários feitos por Múcio mais cedo nesta segunda, nos quais o titular da Defesa manifestou otimismo que, agora, as coisas darão certo. "Tenho certeza que vamos colocar as coisas no seu lugar", disse Lula.