Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu o tom e criticou nesta segunda-feira a falta de resposta das Forças Armadas aos acampamentos de bolsonaristas nas portas de quartéis pelo país que pediam uma intervenção ilegal dos militares contra a sua eleição, e disse que "dava a impressão" de que alguns gostavam dos clamores por golpe.
A declaração aconteceu um dia após os ataques de bolsonaristas radicais aos edifícios-sede dos Três Poderes em Brasília durante uma reunião no Planalto com governadores e os presidentes do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF).
"As pessoas estão livremente reivindicando o golpe na frente dos quartéis, e não foi feito nada por nenhum quartel, nenhum general se moveu para dizer que não pode acontecer isso, é proibido pedir isso", afirmou Lula.
"Dava a impressão de que tinha gente que gostava quando o povo estava clamando pelo golpe", seguiu o presidente, que depois da reunião partiu em caminhada com os governadores e as demais autoridades presentes para vistoriar a destruição no STF.
Lula criticou não apenas os acampamentos bolsonaristas, mas também integrantes do contingente do Batalhão da Guarda Presidencial, do Exército, responsável pela segurança do Planalto: "Soldado do Exército brasileiro conversando com as pessoas (invasores) como se fossem aliados", disse Lula, citando imagens do ataque ao principal edifício da presidência.
"Eles querem golpe, e golpe não vai ter", disse.
O mandatário se reuniu na manhã desta segunda-feira com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e com os comandantes do Exército, da Marinha e da Força Aérea, em um encontro realizado a portas fechadas.
Desde o início dos ataques na capital federal na tarde de domingo, Múcio tem se mantido fora dos holofotes, assim como as Forças Armadas, cabendo ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, tomar a frente das ações para restabelecer a ordem.
Na semana passada, Múcio chegou a afirmar que os acampamentos de bolsonaristas nas portas dos quartéis eram democráticos e que tinha até familiares dele que faziam parte do movimento. De acordo com Dino, no entanto, os acampamentos eram "incubadoras de terroristas".
O principal acampamento bolsonarista, localizado em frente ao quartel-general do Exército em Brasília, foi desmontando nesta segunda-feira após determinação emitida na noite de domingo pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, e cerca de 1.200 bolsonaristas que estavam no local foram levados de ônibus para uma instalação da Polícia Federal. A Polícia Militar do DF e o Exército participaram da desmontagem.
Autoridades afirmam que vários dos envolvidos nos ataques de domingo estavam abrigados ou passaram pelo acampamento, de onde apoiadores de Bolsonaro pedem uma intervenção militar, o que é ilegal, desde a vitória de Lula na eleição presidencial de outubro do ano passado.
O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), disse na reunião dos governadores com Lula que todos os Estados cumpriram a ordem de Moraes de desfazer os acampamentos espalhados pelo país.
Lula disse que não era possível os acampamentos durarem o tempo que duraram sem que houvesse um grande esquema de financiamento, e prometeu que os responsáveis serão identificados e punidos.
"Não vamos dar tregua até descobrirmos os responsáveis. Mais cedo ou mais tarde nos vamos descobrir quem está financiado. Tem gente que financiou e tem gente que apoiou", afirmou.
Na véspera, Lula culpou diretamente Bolsonaro pelos ataques aos prédios dos Três Poderes. "Esse genocida não só provocou isso, não só estimulou isso, como, quem sabe, está estimulando ainda pelas redes sociais", afirmou.
A declaração do presidente sobre os militares é uma guinada de posicionamento. Até esta segunda-feira, o presidente vinha se mantendo mais distante do debate sobre as Forças Armadas e havia escolhido Múcio para a Defesa como um nome conciliador para tentar amainar tensões com setores castrenses que participaram em peso do Governo Bolsonaro.