Por Fernando Cardoso e Maria Carolina Marcello
(Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta quarta-feira que o Estado tem a obrigação de garantir oportunidades para que as pessoas mais pobres também possam "vencer na vida", em vez de atender "megaempresários que só querem saber de pedir bilhões".
Em discurso na cerimônia de inauguração do campus do Instituto Federal do Rio de Janeiro no Parque Olímpico, Lula afirmou que deseja a compreensão dos setores mais altos da sociedade de que seu governo busca apenas "elevar" as pessoas mais pobres na escala social.
"Tem gente que não precisa do Estado. Mas tem muita gente que precisa e é para essa gente que o Estado tem que existir, disse Lula no Parque Olímpico.
"O Estado tem obrigação de garantir oportunidade para que todas as pessoas possam vencer na vida. Esse é o papel do Estado. Não é atender os megaempresários que cada vez que vão na Presidência só querem saber de pedir bilhões e bilhões e bilhões", acrescentou.
Depois, em evento de lançamento da pedra fundamental do campus do Instituto Federal do Rio de Janeiro no Complexo do Alemão, o petista insistiu na tecla de que os pobres não podem se contentar com produtos e serviços de baixa qualidade.
"Tem gente rica que pensa que a gente gosta de ser pobre. Tem gente que acha que a gente gosta de comer mal. Tem gente que acha que a gente gosta de ir na feira meio-dia porque as coisas já estão tudo apertada – os que vão cedo apertam o tomate, apertam a cebola, apertam tudo que é fruta, aperta até o ovo – e a gente que vai ao meio-dia só vai comprar o que já está muito apertado", disse o presidente.
Lula aproveitou para criticar a visão "equivocada" de encarar investimentos na área da educação como gastos, acrescentando que tal argumento desmoraliza o serviço público brasileiro.
"Sabe o que disseram para mim? 'Ah, Lula, mas você está dando dinheiro para esses vagabundos estudarem?'", disse o presidente, referindo-se ao programa federal "Pé-de-Meia", incentivo na modalidade de poupança destinado a promover a permanência e a conclusão escolar de estudantes do ensino médio público.
"Não, eu não estou dando dinheiro para eles estudarem, eu não estou gastando. Eu estou investindo para tirar essa meninada da rua, da bala perdida, do narcotráfico, do crime organizado."
Defendeu, ainda, sua política de profissionalização de mão-de-obra para o mercado de trabalho.
"A gente pretende com isso atender o nosso povo para se qualificar profissionalmente para o mercado de trabalho. Não é aprender a lavar copo. Não é para aprender a lavar panela, não. É aprender profissão sofisticada, é entrar nessa loucura digital, aprender a produzir software, aprender a trabalhar com coisa chique para ganhar dinheiro e ajudar a sociedade."
(Por Fernando Cardoso, em São Paulo, e de Maria Carolina Marcello, em Brasília)