Por Catarina Demony
(Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira que a União Europeia deve parar de adotar uma postura protecionista se quiser chegar a um acordo comercial há muito adiado com o Mercosul.
A UE e o Mercosul -- formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai -- concluíram as negociações em 2019, mas o acordo está suspenso devido a preocupações com o desmatamento da Amazônia e o compromisso do Brasil com as ações contra as mudanças climáticas.
Lula, que foi eleito no ano passado, prometeu reformular as políticas ambiental e climática do país.
A Comissão Europeia propôs a inclusão de um anexo ao acordo para mostrar os compromissos com o desmatamento e outras áreas de sustentabilidade e está aguardando a resposta do Mercosul.
"A carta adicional que a União Europeia mandou para o Mercosul é inaceitável. É inaceitável, porque eles colocam punição a qualquer país que não cumpriu o Acordo de Paris. Nem eles cumpriram o Acordo de Paris. Os países ricos não cumpriram o Acordo de Paris, não cumpriram o Protocolo de Kyoto, não cumpriram a decisão de Copenhague", disse Lula em entrevista coletiva na Itália, onde está em visita oficial.
"Então é preciso que a gente tenha um pouco mais de sensibilidade, um pouco mais de humildade. Nós estamos preparando nossa resposta para a União Europeia e vamos ver se a gente se coloca de acordo para fazer um acordo que favoreça os dois continentes", acrescentou.
Lula viajará para a França ainda nesta quinta e deverá se encontrar com o presidente francês, Emmanuel Macron.
A França disse que estava esperando para ver se o retorno de Lula ao poder permitiria avanços nas questões climáticas e de desmatamento, que continuam sendo linhas vermelhas para Paris em qualquer acordo comercial entre a UE e o Mercosul.
"Eu vou estar na França hoje, eu pretendo conversar com o presidente Macron, porque a França é muito dura na defesa dos seus interesses agrícolas, e é importante a gente convencer a França que é maravilhoso que eles defendam a sua agricultura, mas eles têm que entender que os outros têm o direito de defender a sua", afirmou o presidente.
"Ou seja, é importante que cada um abra mão do seu perfeccionismo, do seu protecionismo também, para que a gente possa construir a possibilidade de um acordo que melhore a situação da União Europeia e da América do Sul."
Recentemente o Parlamento da França aprovou resolução contrária ao acordo comercial entre Mercosul e UE, que não tem poder de lei, mas significa um revés político importante para um eventual acordo de livre comércio entre os dois blocos, isso porque, uma vez firmado um pacto comercial entre as partes, ele precisará ser ratificado por todos os Parlamentos, incluindo o francês.
Na coletiva em Roma, Lula voltou a dizer que pretende discutir com Macron sobre a resolução aprovada pelo Parlamento francês.
"Esse é um dos assuntos que eu pretendo conversar com o Macron, porque não é correto você estar discutindo um acordo e alguém achar que pode colocar punição ao parceiro do acordo. Um acordo pressupõe uma via de duas mãos", disse Lula.
"Eu sei que os franceses são duros, porque não é de hoje que a gente tenta negociar União Europeia e Mercosul, e todo mundo sabe da dureza dos franceses em defesa da sua agricultura. Todo mundo sabe, e é até normal que eles sejam assim, mas também é normal que a gente não aceite. Entre eles quererem e a gente não aceitar, cria-se a oportunidade de a gente estabelecer uma negociação. Eu vou discutir com o Macron, sim."
No início deste mês, a Comissão Europeia disse que não seria sensato renegociar partes de sua proposta de acordo de livre comércio com o Brasil e outros países do Mercosul, uma vez que foram necessárias duas décadas para chegar a um acordo inicial.
Tanto o Brasil quanto a Comissão Europeia esperam finalizar o acordo comercial até o final do ano.