Por Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, anunciou nesta quarta-feira, ao tomar posse, a criação de uma secretaria extraordinária de combate ao desmatamento que terá como medida de sucesso ser extinguida ao acabar com a destruição da floresta, em um discurso com a promessa de atrair investimentos e abrir o mercado brasileiro ao tornar o país respeitado no mundo pela preservação ambiental.
"Vamos ter uma ação que respeita o multilateralismo, mas vamos atuar internamente para que o Brasil volte, em lugar de ser um pária ambiental, ser um país que vai nos ajudar a fazer com que a gente consiga finalizar o acordo do Mercosul (com a União Europeia)", afirmou.
"Que a gente consiga trazer os investimentos, que a gente consiga abrir os mercados para os nossos produtos. Que a gente deixe de ser o pior cartão de visitas para os nossos interesses."
Marina, que volta ao ministério que comandou anteriormente de 2003 a 2008, também anunciou que a Autoridade Nacional do Clima proposta por ela será criada até março e ficará sob a alçada de seu ministério, e ainda disse que será criado um conselho sobre mudança do clima que será liderado pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em uma cerimônia super concorrida no Palácio do Planalto, Marina afirmou ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que espera trabalhar "muito conjuntamente", e exaltou o compromisso assumido por Lula de tornar o meio ambiente um tema transversal em todo o governo.
A ministra reconheceu que haverá "tensões", mas acrescentou que o papel de seu ministério não é "ser um entrave às justas expectativas de desenvolvimento social, mas facilitador" de que isso ocorra sem atacar o meio ambiente.
Com capital político próprio e visibilidade internacional, a ministra vai comandar uma área que vai ser acompanhada de perto no exterior e ela própria será uma espécie de baliza do sucesso do governo Lula 3 em conciliar interesses, como o de ambientalistas e o do importante setor do agronegócio.
Marina disse que o governo brasileiro não se furtará a exercer um papel de liderança nacional e internacional frente à emergência climática que se impõe, que tem como mais atingidos os mais pobres, lembrou.
Ela fez duras críticas à gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro na área ambiental e mencionou declaração do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles durante uma reunião ministerial sobre "passar a boiada".
"Boiadas se passaram nos lugares onde deveriam passar apenas políticas de proteção ambiental", disse. Durante o governo Bolsonaro, diversas políticas ambientais foram desmontadas, resultando em um recorde de 15 anos no desmatamento da Amazônia.
RETORNO
Marina está de volta ao governo depois de 14 anos e um período de afastamento do PT e de Lula, encerrado este ano na tentativa de formação de uma frente para derrotar o ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições de outubro.
A posse de Marina foi a mais concorrida até o momento entre todos os ministros, superando inclusive a do vice-presidente Geraldo Alckmin no Ministério do Desenvolvimento, Indústria Comércio e Serviços, na manhã desta quarta.
O próprio Alckmin, a primeira-dama, Janja da Silva, e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, estavam presentes. Centenas de pessoas lotaram o salão nobre do Palácio do Planalto e uma longa fila para entrar no evento circundava o Palácio.
Um dos pontos centrais da campanha de Lula, as políticas de meio ambiente, a redução do desmatamento e a trava das mudanças climáticas serão tocadas agora por Marina, mas com mais ênfase do que nos primeiros mandatos do presidente.
Em 2008, Marina deixou o governo --e depois o PT-- por divergências com a então toda-poderosa ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Durante a campanha do ano passado, em uma negociação articulada pelo atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Marina voltou a conversar com Lula e posteriormente aceitou compor o governo.
Inicialmente, Marina dizia não ter interesse no ministério. Depois, planejava ocupar a Autoridade Nacional do Clima, ideia apresentada por ela e encampada por Lula. No entanto, a ministra foi convencida de que o melhor desenho seria o ministério com a ANC subordinada a ela.
(Texto de Pedro Fonseca. Edição de Flávia Marreiro)