BELÉM (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira que medidas protecionistas de países ricos "mal disfarçadas de preocupação ambiental" não são o "caminho a trilhar", fazendo aparente referência a exigências ambientas de países europeus que têm travado as negociações do acordo comercial entre a União Europeia e Mercosul.
Durante pronunciamento à imprensa no encerramento da Cúpula da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), em Belém, Lula também reiterou a cobrança por financiamento de nações desenvolvidas para países em desenvolvimento colocarem em prática ações ambientais, lembrando que o "desenvolvimento industrial ao longo de 200 anos poluiu" e agora os responsáveis precisam pagar a sua parte.
Em comunicado após o fim da cúpula, 12 países em desenvolvimento com florestas que participaram do encontro pediram que os países desenvolvidos cumpram suas obrigações de financiamento climático de 100 bilhões de dólares por ano e contribuam para a mobilização de 200 bilhões de dólares por ano até 2030, previstos pelo Marco Global para a Biodiversidade de Kunming-Montreal, para a implementação dos planos de ação e estratégias nacionais de biodiversidade.
Lula recebeu os líderes ou representantes de Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Indonésia, Peru, República Democrática do Congo, República do Congo, São Vicente e Granadinas, Suriname e Venezuela para o encontro em Belém. O objetivo era fechar uma posição conjunta para fóruns globais, como a COP28 que vai acontecer no fim do ano nos Emirados Árabes Unidos.
"Teremos duas frentes de ação importantes. Uma delas é trabalhar pela definição de um conceito internacional de sócio-bioeconomia... outra, é criar mecanismos para remunerar de forma justa e equitativa os serviços ambientais que as nossas florestas prestam ao mundo. Medidas protecionistas mal disfarçadas de preocupação ambiental por parte dos países ricos não são o caminho a trilhar", disse Lula no pronunciamento.
"Não aceitaremos mais ficar criando teses que não sejam colocadas em prática. Nós vamos para a COP28 com o objetivo de dizer ao mundo rico que se quiserem preservar efetivamente o que existe de florestas é preciso colocar dinheiro não apenas para cuidar das copas da floresta, mas para cuidar do povo que mora lá embaixo."
O presidente também reiterou o compromisso com o fortalecimento da segurança na região amazônica, com envio de mais homens da Polícia Federal e das Forças Armadas para combater tanto os crimes ambientais como a criminalidade organizada, como tráfico de drogas e de armas.
O chamado "narco-desmatamento", como descrito em relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) no mês passado, representa um novo alvo para as forças de segurança que operam na floresta amazônica, onde as fronteiras entre grupos criminosos especializados são cada vez mais tênues.
"Da mesma forma que vamos brigar para garantir a floresta, nós vamos brigar muito para expulsar da floresta os narcotraficantes, os traficantes de armas nesse país e o crime organizado", afirmou.
(Reportagem de Jake Spring, em Belém; Reportagem adicional de Fernando Cardoso, em São Paulo)