Por Agnieszka Pikulicka-Wilczewska e Anna Wlodarczak-Semczuk
VARSÓVIA (Reuters) - O Parlamento da Polônia aprovou uma resolução nesta quinta-feira defendendo o nome de João Paulo 2º, depois que um novo livro disse que o falecido papa encobriu conscientemente escândalos de pedofilia clerical enquanto era arcebispo de Cracóvia.
As alegações sobre João Paulo, o primeiro papa polonês, expostas em um documentário exibido pela emissora privada TVN24 na segunda-feira, provocaram um debate acirrado em uma das nações mais católicas da Europa.
Embora muitas pessoas tenham dito que as acusações deveriam levar a uma reavaliação do legado de João Paulo 2º, muitos conservadores religiosos condenam o que veem como uma conspiração da esquerda para desacreditar uma figura que está no centro da identidade da nação.
Políticos do partido do governo Lei e Justiça (PiS) juntaram-se à controvérsia, e propuseram uma resolução em defesa do nome de João Paulo, que foi aprovada na quinta-feira pela Sejm, a câmara baixa do Parlamento, principalmente por conta dos votos de parlamentares do PiS.
"A Sejm... condena veementemente a vergonhosa campanha da mídia, baseada em grande parte nos materiais do aparato de violência comunista, cujo objeto é o Grande Papa - São João Paulo 2º, o maior polonês da história", diz a resolução.
"Não permitiremos que a imagem de um homem que todo o mundo livre reconhece como um pilar da vitória sobre o Império do Mal seja destruída", acrescentou, usando um termo cunhado pelo ex-presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan para descrever a União Soviética.
Na Polônia, onde 85% da população se declara católica, João Paulo, que foi declarado santo pelo papa Francisco em 2014, também é visto como um líder que contribuiu para a queda do comunismo no país, em 1989.
O chefe da Conferência Episcopal Polonesa, arcebispo de Poznan, Stanislaw Gadecki, também exortou “todas as pessoas de boa vontade a não destruírem o bem comum”.
"Os poloneses devem se lembrar da bênção que a Providência nos deu por meio deste papa", escreveu Gadecki em um comunicado publicado na quinta-feira.
O Vaticano não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre as alegações do livro, chamado "Máxima Culpa" e publicado esta semana em polonês.
No livro, o autor Ekke Overbeek remonta ao tempo em que, ainda como Karol Wojtyla, o então futuro papa serviu como arcebispo de Cracóvia entre 1964-1978. A obra se baseia nos arquivos da polícia secreta comunista da Polônia, e em conversas com vítimas e testemunhas de abuso sexual.
O livro diz que João Paulo não apenas sabia sobre o abuso infantil em sua arquidiocese, mas também ajudou a encobri-lo transferindo padres envolvidos de uma paróquia para outra, incluindo pelo menos dois que foram condenados por abuso de menores e cumpriram pena na prisão.
"O que descobri são casos muito concretos de abuso sexual de menores por padres católicos romanos na arquidiocese de Cracóvia durante uma época em que... o futuro João Paulo 2º estava no comando da arquidiocese", disse Overbeek à Reuters.
“Ele estava ciente do problema desde o início, e isso lança uma luz completamente diferente sobre seu pontificado.”
Os defensores do papa questionam a confiabilidade das informações dos documentos da polícia secreta comunista.
(Reportagem de Agnieszka Pikulicka-Wilczewska, Anna Wlodarczak-Semczuk e Marek Strzelecki em Varsóvia; Reportagem adicional de Philip Pullella em Roma)