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Novo livro sobre o papa João Paulo 2º desperta debate acalorado na Polônia

Publicado 09.03.2023, 18:11
Atualizado 09.03.2023, 18:15
© Reuters. Estátua do papa João Paulo 2º localizada em frente a uma igreja em Varsóvia
08/03/2023
REUTERS/Kacper Pempel

Por Agnieszka Pikulicka-Wilczewska e Anna Wlodarczak-Semczuk

VARSÓVIA (Reuters) - O Parlamento da Polônia aprovou uma resolução nesta quinta-feira defendendo o nome de João Paulo 2º, depois que um novo livro disse que o falecido papa encobriu conscientemente escândalos de pedofilia clerical enquanto era arcebispo de Cracóvia.

As alegações sobre João Paulo, o primeiro papa polonês, expostas em um documentário exibido pela emissora privada TVN24 na segunda-feira, provocaram um debate acirrado em uma das nações mais católicas da Europa.

Embora muitas pessoas tenham dito que as acusações deveriam levar a uma reavaliação do legado de João Paulo 2º, muitos conservadores religiosos condenam o que veem como uma conspiração da esquerda para desacreditar uma figura que está no centro da identidade da nação.

Políticos do partido do governo Lei e Justiça (PiS) juntaram-se à controvérsia, e propuseram uma resolução em defesa do nome de João Paulo, que foi aprovada na quinta-feira pela Sejm, a câmara baixa do Parlamento, principalmente por conta dos votos de parlamentares do PiS.

"A Sejm... condena veementemente a vergonhosa campanha da mídia, baseada em grande parte nos materiais do aparato de violência comunista, cujo objeto é o Grande Papa - São João Paulo 2º, o maior polonês da história", diz a resolução.

"Não permitiremos que a imagem de um homem que todo o mundo livre reconhece como um pilar da vitória sobre o Império do Mal seja destruída", acrescentou, usando um termo cunhado pelo ex-presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan para descrever a União Soviética.

Na Polônia, onde 85% da população se declara católica, João Paulo, que foi declarado santo pelo papa Francisco em 2014, também é visto como um líder que contribuiu para a queda do comunismo no país, em 1989.

O chefe da Conferência Episcopal Polonesa, arcebispo de Poznan, Stanislaw Gadecki, também exortou “todas as pessoas de boa vontade a não destruírem o bem comum”.

"Os poloneses devem se lembrar da bênção que a Providência nos deu por meio deste papa", escreveu Gadecki em um comunicado publicado na quinta-feira.

O Vaticano não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre as alegações do livro, chamado "Máxima Culpa" e publicado esta semana em polonês.

No livro, o autor Ekke Overbeek remonta ao tempo em que, ainda como Karol Wojtyla, o então futuro papa serviu como arcebispo de Cracóvia entre 1964-1978. A obra se baseia nos arquivos da polícia secreta comunista da Polônia, e em conversas com vítimas e testemunhas de abuso sexual.

O livro diz que João Paulo não apenas sabia sobre o abuso infantil em sua arquidiocese, mas também ajudou a encobri-lo transferindo padres envolvidos de uma paróquia para outra, incluindo pelo menos dois que foram condenados por abuso de menores e cumpriram pena na prisão.

"O que descobri são casos muito concretos de abuso sexual de menores por padres católicos romanos na arquidiocese de Cracóvia durante uma época em que... o futuro João Paulo 2º estava no comando da arquidiocese", disse Overbeek à Reuters.

© Reuters. Estátua do papa João Paulo 2º localizada em frente a uma igreja em Varsóvia
08/03/2023
REUTERS/Kacper Pempel

“Ele estava ciente do problema desde o início, e isso lança uma luz completamente diferente sobre seu pontificado.”

Os defensores do papa questionam a confiabilidade das informações dos documentos da polícia secreta comunista.

(Reportagem de Agnieszka Pikulicka-Wilczewska, Anna Wlodarczak-Semczuk e Marek Strzelecki em Varsóvia; Reportagem adicional de Philip Pullella em Roma)

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