Por Jeffrey Heller
JERUSALÉM (Reuters) - O político da extrema-direita israelense Naftali Bennett oficializou neste domingo seu apoio a um "governo de mudança" para destituir o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, no que seria o fim de uma era política.
A decisão de Bennett, anunciada por ele em discurso pela televisão, deve permitir que o líder da oposição, Yair Lapid, reúna uma coalizão de partidos de direita, centro e esquerda que representará a Netanyahu sua primeira derrota em eleições desde 1999.
Lapid, líder do partido centrista Yesh Atid que terminou em segundo lugar atrás do direitista Likud de Netanyahu em uma eleição nacional inconclusiva no dia 23 de março, tem até a próxima quarta-feira para anunciar um novo governo.
As chances de sucesso de Lapid residem em Bennett, um ex-ministro da defesa de 49 anos de idade cujo partido Yamina e suas seis cadeiras no parlamento são suficientes para dar a ele o status de fiel da balança.
Sob o futuro acordo de divisão de poder, Bennett substituiria Netanyahu, de 71 anos, no cargo de primeiro-ministro e, mais tarde, daria lugar a Lapid em um acordo rotativo.
"Estou anunciando hoje que pretendo trabalhar com todas as minhas forças para estabelecer um governo de unidade com o presidente do Yesh Atid, Yair Lapid", disse Bennett em seu discurso. "Ou teremos uma quinta eleição ou um governo de unidade."
Respondendo na televisão ao anúncio de Bennett, Netanyahu acusou-o de perpetrar "a fraude do século", citando promessas públicas anteriores de Bennett de não se juntar a Lapid. Ele disse que um governo de direita segue sendo uma possibilidade.
Israel realizou quatro eleições desde abril de 2019. Todas elas terminaram sem um vencedor claro e deixaram Netanyahu e seus rivais sem maioria parlamentar, com o veterano primeiro-ministro permanecendo no cargo como chefe de um governo interino.
Os diversos membros da nova coalizão teriam pouco em comum além do desejo de encerrar a gestão de 12 anos de Netanyahu, o líder mais longevo da história de Israel, atualmente em julgamento por acusações de corrupção.
Uma coalizão antiNetanyahu seria frágil e exigiria o apoio externo de membros árabes do parlamento que se opõem a grande parte da agenda de Bennett, que inclui mais construção de assentamentos na Cisjordânia ocupada e sua anexação parcial.
Se espera que a coalizão se concentre na recuperação econômica da pandemia de Covid-19, deixando de lado as questões sobre as quais os membros discordam, como o papel da religião na sociedade e as aspirações palestinas por um Estado.
Netanyahu disse que a coalizão é um perigo para a segurança e para o futuro de Israel.
"O que a coalizão fará contra o processo de intimidação a Israel? Como vamos olhar nos olhos de nossos inimigos?", disse ele. "O que ela fará no Irã e em Gaza? O que dirão nos corredores do governo em Washington?"
Um acordo entre Bennett e Lapid já era dado como certo quando a violência eclodiu entre militantes de Israel e Gaza no último dia 10 de maio e o líder do Yamina suspendeu as discussões. O conflito terminou com um cessar-fogo após 11 dias.
Um funcionário da Organização para a Libertação da Palestina disse após o discurso de Bennett que o novo governo seria "de extrema direita" e não diferente dos governos chefiados por Netanyahu.
CONTRAOFERTA
Tentando impedir um acordo da oposição, Netanyahu fez uma contraoferta tríplice neste domingo para se unir a outro político de direita, Gideon Saar.
Segundo esse plano, Saar serviria como primeiro-ministro por 15 meses, Netanyahu voltaria por dois anos e Bennett assumiria o resto do mandato do governo.
No entanto, Saar, ex-ministro de governo do Likud, rejeitou rapidamente a oferta.
Os rivais de Netanyahu citaram os casos de corrupção como principal razão pela qual Israel precisa de um novo líder, argumentando que ele poderia usar um novo mandato para conseguir imunidade.
Se Lapid, de 57 anos, não anunciar um governo até a próxima quarta-feira, ao final de um período de 28 dias para formar coalizão, uma nova eleição deverá ser realizada.