Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - O arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, afirmou nesta quarta-feira que é necessário ter uma identidade religiosa e que ou se é evangélico ou se é católico, antes da visita que o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez ao santuário da cidade no feriado de Nossa Senhora Aparecida, após participar da inauguração de um templo evangélico em Belo Horizonte.
O arcebispo também disse à imprensa que, independente de qual fosse a intenção de Bolsonaro ao visitar o santuário, ele seria acolhido por ser o presidente.
"Não posso julgar as pessoas, mas nós precisamos ter uma identidade religiosa. Ou somos evangélicos, ou somos católicos. E então, nós precisamos ser fieis à nossa identidade católica. Mas seja qual for a intenção, vai ser bem recebido porque é o nosso presidente, e é por isso que nós o acolhemos", disse o arcebispo. Ele também defendeu a importância dos eleitores votarem no segundo turno, marcado para o próximo dia 30.
"Vamos votar. É a democracia, que ainda existe, o poder do voto, a soberania do povo. Isso que nós devemos falar e ajudar o povo a votar", afirmou.
Durante a missa que celebrou pela manhã, o arcebispo apontou a necessidade de derrotar o que chamou de "dragões" do ódio, da mentira, do desemprego e da fome.
"Com Maria, vamos vencer o mal e vamos dar prioridade ao bem, à verdade e à justiça, que o povo merece porque tem fé e ama Nossa Senhora Aparecida."
À tarde, Bolsonaro visitou o santuário de Aparecida e assistiu à missa. Mais cedo, ele inaugurou o templo da Igreja Mundial do Poder de Deus, do líder evangélico Valdemiro Santiago, e aproveitou um discurso no local para reforçar a pauta de costumes, com a qual vem buscando atrair o eleitorado que se diz religioso.
Bolsonaro, que afirma ser católico, mas tem desde a campanha eleitoral de 2018 acenado fortemente aos evangélicos.
Na terça-feira, em nota, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lamentou o que chamou de "intensificação da exploração da fé e da religião como caminho para angariar votos no segundo turno".
"A manipulação religiosa sempre desvirtua os valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que necessitam ser debatidos e enfrentados em nosso Brasil", afirmou a entidade.
"Ratificamos que a CNBB condena, veementemente, o uso da religião por todo e qualquer candidato como ferramenta de sua campanha eleitoral."