Por Philip Pullella
ROMA (Reuters) - O papa Francisco disse em entrevista que a Ucrânia deveria ter o que chamou de coragem da “bandeira branca” e negociar o fim da guerra com a Rússia após a invasão em grande escala iniciada há dois anos e que matou dezenas de milhares de pessoas.
O papa fez seus comentários em uma entrevista gravada no mês passado à emissora suíça RSI, bem antes da última oferta feita na sexta-feira pelo presidente turco, Tayyip Erdogan, para sediar uma cúpula entre a Ucrânia e a Rússia para negociar o fim da guerra.
Erdogan fez a nova oferta após reunião em Istambul com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy. Zelenskiy disse que, embora queira a paz, não abrirá mão de nenhum território.
O plano de paz do líder ucraniano prevê a retirada das tropas russas de toda a Ucrânia e a restauração das fronteiras do país. O Kremlin descartou o envolvimento em negociações de paz nos termos estabelecidos por Kiev.
Até o momento, o porta-voz de Zelenskiy não respondeu a um pedido de comentário a respeito das declarações do papa.
Na entrevista, Francisco foi questionado sobre a sua posição num debate entre aqueles que dizem que a Ucrânia deveria desistir do confronto, uma vez que não foi capaz de repelir as forças russas, e aqueles que dizem que agir assim legitimaria as ações do lado mais forte. O entrevistador usou o termo “bandeira branca” na pergunta.
“Essa é uma interpretação, e isso é verdade”, disse Francisco, de acordo com uma transcrição antecipada da entrevista e um vídeo parcial disponibilizado à Reuters no sábado. A transmissão está prevista para 20 de março como parte de uma nova programação cultural.
“Mas penso que o melhor é aquele que olha para a situação, pensa no povo e tem a coragem da bandeira branca e negocia”, disse Francisco, acrescentando que as conversações deveriam ocorrer com a ajuda das grandes potências internacionais.
“A palavra negociar é uma palavra corajosa. Quando você vê que está derrotado, que as coisas não vão bem, é preciso ter coragem para negociar”, disse Francisco.
Acredita-se que seja a primeira vez que Francisco usa termos como “bandeira branca” ou “derrotado” ao debater a guerra na Ucrânia, embora já tenha falado no passado sobre a necessidade de negociações.
No ano passado, o papa, de 87 anos, enviou um enviado de paz, o cardeal italiano Matteo Zuppi, a Kiev, Moscou e Washington para sondar os líderes desses países.
“Podemos sentir vergonha”, disse Francisco sobre negociar, “mas com quantos mortos (a guerra) terminará? (Deveríamos) negociar a tempo, encontrar um país que possa ser um mediador”, disse Francisco, mencionando a Turquia e outros países que se ofereceram para o papel.