Por Will Dunham
WASHINGTON (Reuters) - Para usar um eufemismo, foi um dia ruim para a Terra quando um asteroide atingiu a península de Yucatán, no México, há 66 milhões de anos, causando uma calamidade global que matou quase três quartos das espécies do planeta e encerrou a era dos dinossauros.
Os efeitos imediatos do asteroide incluíram grandes incêndios, terremotos, uma imensa onda de choque no ar e enormes ondas estacionárias nos oceanos. Mas o xeque-mate para muitas espécies foi mesmo a catástrofe climática desencadeada nos anos seguintes, quando os céus escureceram por conta das nuvens de detritos e as temperaturas despencaram.
Pesquisadores revelaram nesta segunda-feira o relevante papel desempenhado pela poeira de rocha pulverizada sobre as extinções ao "sufocar" a atmosfera e impedir os vegetais de utilizar a luz do sol para obter energia por meio da fotossíntese.
O total de poeira liberada pelo impacto foi calculado pelo grupo de pesquisadores em 2.000 gigatoneladas, o que seria mais do que 11 vezes a massa do Monte Everest.
Os cientistas também fizeram simulações paleoclimáticas com base em sedimentos desenterrados no estado norte-americano de Dakota do Norte, de um sítio chamado Tanis que preservou evidências sobre as condições da Terra após o impacto, incluindo a precipitação da poeira.
As simulações mostraram que o pó pode ter bloqueado a fotossíntese por até dois anos, deixando a atmosfera opaca ao sol. O material pode ter permanecido no ar por 15 anos, afirmou o cientista planetário Cem Berk Senel, do Observatório Real da Bélgica e do Vrije Universiteit Brussel, autor do estudo publicado pelo jornal Nature Geoscience.
Embora estudos anteriores tenham apontado dois fatores para a extinção — o enxofre liberado após o impacto e a fuligem dos incêndios florestais —, essa pesquisa indicou que a poeira teve um papel maior do que o previamente sabido.
Após o impacto, a Terra experimentou uma queda de cerca de 15 graus Celsius nas temperaturas da superfície.
"Ficou frio e escuro por anos", afirmou Philippe Claeys, cientista da Vrije Universiteit Brussel e co-autor do estudo.
A Terra entrou então em "inverno de impacto", com as temperaturas em queda e a produção primária — processo usado por plantas terrestres e aquáticas, além de outros organismos, para produzir alimento a partir de fontes não-orgânicas — entrando em colapso, causando uma reação em cadeia de extinções.
Os vegetais morreram, e os animais herbívoros ficaram famintos. Os carnívoros, por sua vez, perderam as suas presas e morreram. Nos reinos marinhos, o desaparecimento do fitoplâncton arruinou as cadeias alimentares.
"Enquanto o enxofre ficou por cerca de oito a nove anos, a fuligem e a poeira de silicato permaneceram na atmosfera por uns 15 anos após o impacto. A recuperação completa do inverno de impacto demorou ainda mais, com as condições de temperatura retornando ao estágio anterior apenas cerca de 20 anos depois", afirmou o cientista do Royal Observatory of Belgium e co-autor Özgür Karatekin.
O asteroide, que tinha de 10 a 15 quilômetros de diâmetro, trouxe o cataclisma que encerrou o Período Cretáceo.
Os dinossauros foram extintos, além de répteis marinhos que dominavam os mares, entre outros grupos. Os grandes beneficiários foram os mamíferos, que até então desempenhavam papel coadjuvante no drama da vida, mas tiveram a oportunidade de tornarem-se personagens principais.
Sem o asteroide, os dinossauros ainda poderiam comandar o planeta.
"Eles dominaram a Terra e estavam bem quando o meteorito a atingiu", disse Claeys.
"Sem o impacto, minha estimativa é que os mamíferos -- incluindo nós -- teriam poucas chances de tornarem-se os organismos dominantes deste planeta."
(Reportagem de Will Dunham)