Por Anthony Boadle e Sergio Queiroz
BRASÍLIA (Reuters) - Forças de segurança se posicionaram em um acampamento de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro em Brasília nesta segunda-feira, um dia depois que manifestantes provocaram o pior ataque às instituições democráticas do Brasil desde seu retorno à democracia na década de 1980.
Centenas de policiais em equipamento de choque e alguns a cavalo se reuniram no acampamento perto do quartel-general do Exército de Brasília, enquanto os soldados da área se retiraram, disseram testemunhas da Reuters, após a invasão de domingo por milhares de apoiadores de Bolsonaro do Congresso, da Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Planalto.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, rival de Bolsonaro que assumiu o cargo em 1º de janeiro após uma vitória apertada nas eleições de outubro, prometeu levar os responsáveis pela violência à Justiça, depois que manifestantes quebraram janelas e móveis, destruíram obras de arte e roubaram armas e artefatos .
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, juntou-se a outros líderes mundiais para condenar os ataques, chamando-os de "ultrajantes", enquanto Bolsonaro, que agora está na Flórida, negou incitar seus apoiadores e disse que os manifestantes "passaram dos limites".
Além de afastar o governador do DF por 90 dias na noite de domingo, o ministro do STF Alexandre de Moraes ordenou as redes sociais Facebook (NASDAQ:META), Twitter e TikTok a bloquear contas de usuários que divulgarem propaganda antidemocrática.
A Meta, dona do Facebook, disse nesta segunda-feira que está removendo conteúdo que apoia ou exalta os ataques de domingo às sedes dos Três Poderes. Telegram, TikTok, Twitter e YouTube não responderam imediatamente aos pedidos de comentários.
Lula decretou intervenção federal na segurança pública da capital e prometeu punição exemplar para os líderes do ataque "fascista" destinado a provocar um golpe militar que pudesse devolver Bolsonaro ao poder.
"Todas as pessoas que fizeram isso serão encontradas e serão punidas", disse Lula a repórteres em São Paulo.
Lula culpou Bolsonaro por incitar seus apoiadores após uma série de acusações infundadas sobre fraude eleitoral ao fim do seu governo, marcado por um populismo nacionalista divisivo.
Da Flórida, para onde Bolsonaro viajou 48 horas antes do término de seu mandato, o ex-presidente rejeitou a acusação. Ele disse no Twitter que manifestações pacíficas são democráticas, mas a invasão de prédios públicos "fogem à regra".
O ataque levantou questionamentos entre aliados de Lula sobre como as forças de segurança do DF estavam tão despreparadas e facilmente dominadas por invasores que haviam discutido planos por dias nas redes sociais sobre se encontrarem para manifestações no fim de semana.
A invasão, que lembra o ataque ao Capitólio dos Estados Unidos por apoiadores do ex-presidente Donald Trump, há dois anos, foi condenada por líderes mundiais, do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a líderes europeus e chefes de Estado latino-americanos.
"Os ataques violentos às instituições democráticas são um ataque à democracia que não pode ser tolerado", disse o chanceler alemão, Olaf Scholz, nesta segunda-feira. O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, condenou qualquer tentativa de minar a transferência pacífica de poder.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a Rússia condena "nos termos mais fortes" as ações daqueles que instigaram a desordem.
CENTENAS DE INVASORES PRESOS
A polícia retomou controle dos prédios públicos danificados em Brasília depois de três horas e dispersou a multidão com gás lacrimogêneo.
O ministro da Justiça, Flavio Dino, disse que todas as pessoas que participaram das invasões aos edifícios-sede dos Três Poderes em Brasília, que ele chamou de atos "terroristas", serão presas e enfrentarão penas que podem ultrapassar os 20 anos.
Dino disse que as investigações buscarão descobrir quem financiou as várias centenas de ônibus que levaram apoiadores de Bolsonaro a Brasília.
A invasão dos prédios públicos vinha sendo planejada há pelo menos duas semanas por apoiadores de Bolsonaro em grupos nas redes sociais como Telegram e Twitter, mas não houve movimento das forças de segurança para impedir o ataque, chamado por um grupo de "a apreensão do poder pelo povo".
Mensagens vistas pela Reuters ao longo da semana mostraram integrantes desses grupos organizando pontos de encontro em diversas cidades pelo país, de onde sairiam ônibus fretados para Brasília, com a intenção de ocupar prédios públicos.
O plano incluía acampar em frente ao quartel-general do comando do Exército, onde os manifestantes estavam acampados desde que Lula venceu a eleição em outubro por uma margem apertada.
No início da tarde de domingo, quando os protestantes começaram a chegar à Esplanada de Brasília, em vez de serem contidos, foram escoltados por viaturas da Polícia Militar com sinalizadores luminosos.
A tropa de choque só chegou ao local duas horas após o início das invasões.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu, Gabriel Stardgarter, Gabriel Araujo e Anthony Boadle)