Por Sarah Marsh e Anthony Boadle
SANTIAGO/BRASÍLIA (Reuters) - A tentativa do chanceler alemão, Olaf Scholz, de reunir apoio nesta semana para a Ucrânia contra a invasão russa durante sua primeira viagem à América do Sul fracassou, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterando sua visão de que ambas as partes compartilharam responsabilidade.
Scholz buscou criar unidade sobre a Ucrânia durante sua viagem de três dias, agradecendo aos três países que visitou --Argentina, Chile e Brasil-- por condenarem a invasão da Rússia na Assembleia-Geral das Nações Unidas no ano passado.
Mas as consequências da guerra e as duras sanções contra a Rússia, como o aumento dos preços dos alimentos e da energia, atingiram a região de forma particularmente dura, levantando questões sobre a abordagem do Ocidente. O ceticismo também existe sobre o intervencionismo e as sanções devido ao seu próprio passado.
Na etapa final de sua viagem sul-americana, Scholz se tornou na segunda-feira o primeiro líder estrangeiro a visitar Lula desde sua posse. A Europa está tentando restabelecer os laços com o Brasil, abalados sob o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em entrevista coletiva conjunta em Brasília, Scholz disse estar muito feliz com o retorno do Brasil ao cenário mundial. Mas ficou impassível quando Lula expôs suas opiniões sobre a guerra na Ucrânia.
"Acho que a Rússia cometeu o erro clássico de invadir o território de outro país", disse Lula a repórteres.
"Mas acho que quando um não quer, dois não brigam, e tenho ouvido falar muito pouco sobre paz", acrescentou ele.
Lula também disse que o Brasil não forneceria à Ucrânia munição para as armas antiaéreas Gepard de fabricação alemã, conforme teria sido solicitado pela Alemanha.
O Brasil trabalhará com outros países para ajudar a alcançar a paz na Ucrânia, afirmou o presidente.
A China tem um papel importante a desempenhar nas negociações de paz, acrescentou ele, que discutirá o assunto em uma visita planejada a Pequim para março.
SEM ARMAS PARA UCRÂNIA
No início da viagem de Scholz, destinada a fortalecer os laços com a região, os líderes da Argentina e do Chile condenaram mais claramente o ataque russo, mas reduziram qualquer esperança de apoio ao esforço de guerra da Ucrânia.
"A Argentina e a América Latina não planejam enviar armas para a Ucrânia ou qualquer outra zona de conflito", disse o presidente argentino, Alberto Fernández, durante entrevista coletiva conjunta em Buenos Aires com Scholz no sábado.
O presidente chileno, Gabriel Boric, defendeu sua condenação à invasão apesar de "alguns meios de comunicação ou formadores de opinião acreditarem que foi uma má decisão se envolver na política de outros países".
Evitando uma pergunta sobre se ele concordava com Fernández sobre armas, ele disse que o Chile prometeu ajudar na reconstrução da Ucrânia após a guerra, por exemplo, limpando minas.
Nos dois países, Scholz visitou memoriais às vítimas de suas ditaduras militares que, segundo ele, enfatizam a necessidade de lutar pela democracia e pela liberdade.
Em Brasília, ele expressou sua total solidariedade a Lula e ao Brasil em geral depois que apoiadores de Bolsonaro atacaram as sedes dos Três Poderes no começo do mês.
Autoridades do governo alemão dizem que é compreensível que os países latino-americanos tenham opiniões divergentes sobre as causas da guerra e como lidar com ela, mas destacam a importância de continuar a transmitir a perspectiva ocidental, como Scholz também fez na África e na Ásia.
(Reportagem de Sarah Marsh e Anthony Boadle; Reportagem adicional de Brendan O'Boyle e Riham Alkousaa)