Por Sergio Queiroz
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A remoção de proteções de territórios indígenas e a falta de ação do governo para conter a criminalidade na Amazônia criaram as condições que levaram ao recente assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, de acordo com o fotógrafo Sebastião Salgado.
O brasileiro de 78 anos, internacionalmente conhecido por suas fotografias mostrando a vida na região amazônica, esteve no Rio de Janeiro para abrir sua exposição "Amazônia". Ele passou sete anos vivendo entre 12 povos indígenas na floresta para tirar as fotos.
No mês passado, ele também fez parte de um grupo de brasileiros convocados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para monitorar as buscas após o desaparecimento de Phillips e Pereira na Amazônia.
Pereira e Phillips desapareceram no dia 5 de junho no remoto Vale do Javari. Seus restos mortais foram encontrados duas semanas depois, após um pescador local confessar os assassinatos. Outros suspeitos também foram presos.
"Eu, pessoalmente, culpo diretamente o governo federal pelo assassinato do Bruno e do Dom," disse Salgado.
Ele citou o desmantelamento das proteções indígenas sob o governo do presidente Jair Bolsonaro e disse que o governo havia permitido "a penetração da marginalidade violenta na floresta".
Procurado, o governo brasileiro não respondeu a um pedido de comentário.
Salgado também criticou o governo por não fazer o suficiente para conter o desmatamento.
Nos primeiros seis meses de 2022, um recorde de 3.988 km quadrados foram destruídos na floresta amazônica, uma área cinco vezes maior do que a cidade de Nova York, de acordo com dados do Inpe.
"Se nós destruirmos a Amazônia como nós estamos destruindo agora, a Amazônia passa a ser uma bomba de carbono," disse Salgado.
(Reportagem adicional de Peter Frontini, em São Paulo)