Por Bruno Kelly e Steven Grattan
MANACAPURU, Amazonas (Reuters) - Alguns rios que serpenteiam pela vasta floresta amazônica no Brasil mostraram um acúmulo de peixes mortos nos últimos dias, à medida em que o agravamento da seca fez com que os níveis de água caíssem, afetando o acesso das comunidades locais a alimento e água.
Mais de 110 mil pessoas já foram afetadas, dizem as autoridades, pois os peixes mortos apodreceram e contaminaram o abastecimento de água.
Em Manacapuru, a duas horas de carro de Manaus, peixes saltavam na tentativa de escapar das águas rasas e escaldantes e o cheiro dos animais apodrecidos na água marrom era sufocante.
“Está difícil pela poluição da água, que a gente precisa muito da água para tomar banho e está ficando muito difícil. E também a gente bebia da água, mas como está poluída a gente não tem como beber", disse a lojista Caroline Silva dos Santos, de 19 anos, em Manacapuru.
"A gente está conseguindo água da cidade que o meu pai faz viagens (e traz).”
Vídeos de outros animais mortos, incluindo botos, têm circulado nas redes sociais.
A região está sob pressão do fenômeno climático El Niño, com volume de chuvas no norte da Amazônia abaixo da média histórica. No Amazonas, 59 dos 62 municípios enfrentam seca e 15 deles estão em situação de emergência, segundo o Grupo de Trabalho da Amazônia, que reúne 503 organizações locais.
O nível da água do Rio Negro – o maior afluente esquerdo do Rio Amazonas – tem caído 20 cm por dia, disse a organização.
Em 2010, uma seca severa empurrou os níveis dos rios na região Amazônica para mínimas históricas, criando problemas semelhantes.
“Ainda não estamos nesse nível (2010), mas temos potencial para chegar a esse ponto. Acho que já é uma reflexão sobre qual pode ser o novo normal que enfrentaremos no futuro", disse Ane Alencar, diretora científica do Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (IPAM).
Ane Alencar disse que as mudanças climáticas afetarão não só a natureza, mas também a vida das pessoas na Amazônia.
“As pessoas perderão os seus bens, casas, gado. Normalmente negligenciamos os impactos da seca na vida e na saúde humana”, disse ela, acrescentando que o governo precisa estar mais preparado para este tipo de eventos.
Os moradores locais que estão ficando sem suprimentos e não conseguem pescar nas águas pedem apoio extra. O governo federal disse na quarta-feira que estava preparando uma força-tarefa para fornecer assistência emergencial aos habitantes.
“A tendência é que quanto mais seque, mais morre peixe e mais a situação fica precária", disse Anésio Junior, pescador de 39 anos da região.
"A gente está aqui pedindo apoio de todos, do governo municipal, estadual, que possam nos ajudar nessa essa situação de emergência.”
(Reportagem de Bruno Kelly em Manacapuru e Steven Grattan em São Paulo)