BRASÍLIA (Reuters) - O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, se reuniu com economistas nesta sexta-feira para explicar as mudanças nas metas fiscais e, segundo um participante da reunião realizada em São Paulo, aproveitou para reafirmar que não há conflito dentro da equipe econômica.
Segundo o economista de um banco que participou da reunião e que preferiu não ser identificado, Barbosa tentou colocar um ponto final na interpretação de analistas de que a revisão da meta fiscal foi feita a contragosto do ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
A reunião com cerca de 30 representantes das principais instituições financeiras do país fez parte de uma série de encontros e entrevistas realizados por Barbosa e Levy para acalmar o mercado desde a redução da meta fiscal, anunciada na quarta-feira e que levou a uma disparada do dólar e alta do risco-país.
Barbosa disse aos economistas que a equipe econômica e a Presidência já esperavam uma reação ruim do mercado, embora não tão intensa, e que conversou com as agências de classificação de risco por telefone para explicar as mudanças, ainda segundo o relato.
Economistas questionaram Barbosa sobre a projeção de dívida bruta do governo, considerada otimista pelo mercado.
O governo estima que a relação dívida bruta/PIB vai subir a 66 por cento até 2016, ante os atuais 62 por cento. A partir de 2017, a relação se estabilizaria, contrastando com projeções de parte dos economistas, que avaliam que a dívida pode chegar a 70 por cento do PIB no período.
Barbosa disse que a projeção do governo foi baseada em modelo do Banco Central e que as divergências com o mercado podem ser atribuídas a fatores como estimativas para o custo implícito da dívida, o uso de swaps e crescimento da economia, disse a fonte.
O ministro também disse que a política fiscal continua neutra ou contracionista, mesmo após a redução das metas de superávit primário, repetindo declarações dadas mais cedo em entrevista à Reuters.
A meta de superávit primário de 2015 foi cortada de 1,1 para apenas 0,15 por cento do Produto Interno Bruto (PIB). Para 2016 e 2017, os objetivos foram reduzidos a 0,7 e 1,3 por cento do PIB, respectivamente, contra 2 por cento anteriormente para os dois anos.
Depois da mudança, o dólar atingiu nesta sexta-feira o valor mais alto em 12 anos, refletindo a piora na percepção de risco do país. Investidores temem que o Brasil perca seu grau de investimento pelas principais agências de classificação de risco nos próximos anos em função do aumento da dívida.
(Por Silvio Cascione, com reportagem adicional de Marcela Ayres)