Moscou, 19 mar (EFE).- O presidente da Rússia, Vladimir Putin, se reunirá amanhã, sexta-feira, em Astana, com seus colegas do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev, e de Belarus, Aleksandr Lukashenko, em uma cúpula na qual tentará reanimar a União Econômica Eurasiática (UEE), seu maior projeto de integração.
A cúpula estava prevista inicialmente para o último dia 13, mas foi adiada por problemas de saúde de Putin, o que o Kremlin negou oficialmente.
Na opinião do analista político russo Andrei Okara, o grande objetivo de Putin é conseguir que os sócios-fundadores da União Eurasiática referendem seu apoio ao projeto integrador, que começou sua caminhada em 1º de janeiro.
"Putin precisa de garantias de que Lukashenko e Nazarbayev continuam leais à ideia da União Eurasiática, que foi seriamente diminuída e que precisa de um novo impulso", assinalou o analista em declarações ao site "Odnako.seu".
O projeto eurasiático foi duramente afetado pela grave crise econômica que aflige a Rússia, produto da queda dos preços do petróleo e das sanções que União Europeia, Estados Unidos e outros países impuseram a Moscou por causa da crise ucraniana.
Mas não só os aspectos econômicos lastram o arranque da UEE: a anexação da Crimeia pela Rússia e a sublevação pró-russa nas regiões ucranianas de Donetsk e Lugansk preocuparam tanto Cazaquistão quanto Belarus.
Nazarbayev e Lukashenko, considerados antes da explosão da crise ucraniana os mais firmes aliados de Moscou, não cerraram fileiras com o Kremlin e expressaram repetidas vezes seu respeito à integridade territorial da Ucrânia.
Os três presidentes abordarão o andamento do cumprimento dos acordos de Minsk para o acerto pacífico do conflito nas regiões orientais ucranianas, antecipou hoje o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
"A posição russa é bastante conhecida. Tenho certeza que o presidente Putin a exporá de maneira argumentada a seus colegas", disse Peskov.
A retórica sobre o "mundo russo", que segundo seus ideólogos se estende muito além das fronteiras da própria Rússia, causa desconforto no Cazaquistão e em Belarus, cada vez mais reticentes a estreitar sua integração com Moscou, que em algumas ocasiões adota medidas unilaterais sem consultar seus parceiros.
Foi assim com a decisão da Rússia de proibir a importação de alimentos dos países que adotaram sanções contra Moscou pela crise ucraniana, da qual Cazaquistão e Belarus foram comunicados depois, apesar de os três países fazerem parte de uma união aduaneira.
Segundo cálculos dos promotores do projeto, o efeito sinérgico da união dos potenciais econômicos dos três países poderia representar, em dez anos, um crescimento adicional de entre 17% e 20% do Produto Interno Bruto de cada um dos membros da UEE.
A integração eurasiática inclui a colocação em prática da livre circulação de mercadorias, capitais, serviços e força de trabalho, assim como a coordenação das políticas econômicas.
Setores como agricultura, construção e comércio se liberalizaram em 1º de janeiro, e em outros acontecerá gradualmente.
O mercado comum de energia elétrica na UEE deverá esperar até 2019, e o de hidrocarbonetos começará a operar no mais tardar em 2025.
Os estatutos da União sublinham que o projeto é exclusivamente econômico, e exclui todo componente político, por isso é improvável que possa tomar um caminho semelhante ao modelo de integração da União Europeia, com estruturas supranacionais.
Putin declarou mais de uma vez que a União Eurasiática é uma entidade de integração puramente econômica e que não pretende recriar a extinta União Soviética.
No entanto, durante os dois anos e meio que duraram as negociações tripartites para a elaboração do acordo, a Rússia tentou somar elementos políticos ao projeto, esforços que foram infrutíferos graças a ferrenha oposição de Belarus e Cazaquistão.
O presidente da Armênia, Serge Sargsian, não participará da reunião. O país se uniu à União Eurasiática no dia 2 de janeiro deste ano, e sua ausência foi interpretada como a confirmação de sua condição de parceiro menor do grupo.
A UEE contará com um novo membro em maio, com a incorporação do Quirguistão, antiga república soviética na Ásia Central.