Por Flavia Bohone
SÃO PAULO (Reuters) - A presidente e candidata a reeleição Dilma Rousseff (PT) deveria apresentar antes da votação do dia 26 um nome para comandar o Ministério da Fazenda em um eventual segundo mandato para dar credibilidade a uma proposta de recuperação da economia, disse o economista e ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto.
Para ele, Dilma e seu adversário no segundo turno, Aécio Neves (PSDB), precisarão apresentar nas próximas semanas propostas de estímulo ao crescimento econômico que transmitam credibilidade.
Aécio anunciou em 27 de agosto que, se eleito, nomeará o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga como ministro da Fazenda.
Dilma, enquanto isso, está em uma situação inusitada, depois de ter anunciado o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não continuará no cargo caso seja reeleita.
"Hoje todo mundo sabe que o Aécio nomeou ministro e o Mantega está desnomeado (sic). Então o governo (Dilma) vai ter que apresentar seu campeão, para apresentar seu projeto crível", disse o economista em entrevista à Reuters.
Delfim afirmou que a petista precisa de um nome para liderar a equipe econômica "com a mesma credibilidade" de Armínio, mas não soube dizer se a presidente fará a nomeação antes da votação em 26 de outubro.
Uma fonte graduada do governo afirmou que Dilma até pode anunciar o substituto de Mantega durante a campanha, dependendo dos resultados das próximas pesquisas de intenção de voto. A fonte ressaltou que apenas a presidente e "talvez uma ou duas outras pessoas" saibam quem ela tem em mente para conduzir a Fazenda em um segundo mandato.
Delfim destacou a importância de se apresentar ideias para a economia que transmitam credibilidade.
"Se eu anunciar que vou fazer e as pessoas acreditarem que eu vou fazer, elas vão ajudar. Se elas não acreditarem, vão operar em outra direção. Então, a credibilidade do programa é fundamental", disse ele.
O economista defendeu que o futuro titular da Fazenda trabalhe para equilibrar o setor financeiro e a economia real. "O setor financeiro tem que ser realmente regulamentado e controlado para servir ao setor real, e não servir-se dele."
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro encolheu 0,6 por cento no segundo trimestre e o país entrou em recessão técnica. Delfim estima que a economia do país deve crescer menos de 0,5 por cento este ano.
"O caminho para retomar o crescimento mais forte é recuperar o poder de poupança do governo, apresentar um programa crível de recuperação industrial e um programa crível de estímulo à exportação industrial", disse, acrescentando que os dois candidatos terão de mostrar seus planos para essas áreas e quem trouxer as propostas mais confiáveis pode ter vantagem na corrida presidencial.
INFLAÇÃO
A atual situação econômica brasileira, com a inflação em 6,75 por cento em 12 meses até setembro, na visão do ex-ministro é "desagradável, mas não apocalíptica".
"A inflação é desagradável e muito alta com relação a nossos competidores internacionais", disse.
"Isso não vai prejudicar dramaticamente a eficiência da economia, mas, seguramente, uma taxa de inflação de 4,5 por cento é mais do que satisfatória para permitir um ajuste interno de salário real sem grandes dificuldades. Então, é conveniente voltar para 4,5 por cento", acrescentou, referindo-se ao centro da meta de inflação do governo.
INFRAESTRUTURA
Delfim criticou a lentidão do governo atual em iniciar uma política de concessões para alavancar os investimentos.
"O governo demorou muito para aprender, mas hoje é evidente que a primeira ampliação de investimento público tem que ser por concessões", disse, acrescentando que o governo já entendeu também que concessão exige bons projetos e que não é possível determinar apenas a taxa de retorno.
"Se eu quero uma estrada alemã eu não posso fixar a qualidade da estrada e a taxa de retorno, eu fixo a qualidade e o leilão diz qual é o retorno."
Do lado positivo, o economista destacou as conquistas sociais alcançadas.
"Dilma tem 40 milhões de votos porque o andar de baixo sente que está melhor do que estava. O maior equívoco da oposição é ignorar isso, imaginar que o bolsa família é um pecado porque desestimula as pessoas, é um preconceito ridículo, é uma tolice gigantesca", disse. Para ele, os programas sociais trouxeram mais equilíbrio para a sociedade.
"O regime de economia de mercado é uma corrida e extremamente competitivo. Numa competição, todo mundo tem que sair do mesmo lugar e com duas pernas, onde ele vai chegar, vai depender do DNA, da sorte, de uma porção de coisas, mas a justiça se faz na saída, não na chegada."
(Reportagem adicional de Brian Winter; Edição de Cesar Bianconi e Raquel Stenzel)