Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - A acusação de que o presidente Michel Temer deu aval à compra do silêncio do ex-deputado federal Eduardo Cunha pelo empresário Joesley Batista, dono da JBS (SA:JBSS3), é a de maior potencial explosivo contra Temer, mas não é a única a atingir o presidente em pouco mais de um ano à frente do governo.
Reportagem do jornal O Globo na quarta-feira, que foi posteriormente confirmada pela Reuters, afirma que Joesley Batista gravou uma conversa com Temer em que conta ao presidente que pagava uma mesada a Cunha e ao doleiro Lucio Funaro, um dos operadores da Lava Jato, para que os dois ficassem calados. Temer respondeu: "Tem que manter isso, viu?" Cunha e Funaro estão presos em Curitiba.
Em nota, ainda na quarta, Temer admitiu o encontro com o empresário, mas afirmou que não solicitou, não autorizou e não participou de qualquer movimento para a compra do silêncio do ex-deputado.
Nesta quinta, em conversa com parlamentares no Palácio do Planalto, o presidente disse que não cairá em meio às denúncias e afirmou ser vítima de uma conspiração.
A acusação, parte de tratativas de acordo de delação premiada de Joesley Batista e de integrantes da JBS com a Justiça, é a mais grave a atingir Temer e coloca em xeque até mesmo sua permanência no cargo, mas não é a primeira vez que o presidente tem o nome envolvido na Lava Jato.
Em acordo de delação premiada divulgado em abril, o ex-executivo da Odebrecht Márcio Faria da Silva disse que Temer participou de uma reunião realizada em 2010 no escritório político do hoje presidente em que foi acertado o pagamento de 40 milhões de dólares em propina ao PMDB. À época, Temer presidia o partido e era candidato a vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff.
Os valores, de acordo com o delator, se referiam a um porcentual de 5 por cento de contratos da empreiteira com a Petrobras (SA:PETR4).
"Totalmente vantagem indevida, porque era um percentual em cima de um contrato", disse Faria no depoimento, quando perguntado se havia ficado claro na reunião que o repasse era relativo a pagamento de propina.
Em nota divulgada na ocasião, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República afirmou que Temer jamais tratou de valores com Márcio Faria. O comunicado reconheceu, no entanto, que o presidente participou de uma reunião em 2010 em que Faria foi acompanhado por Cunha.
"A conversa, rápida e superficial, não versou sobre valores ou contratos na Petrobras. E isso já foi esclarecido anteriormente, quando da divulgação dessa suposta reunião. O presidente contesta de forma categórica qualquer envolvimento de seu nome em negócios escusos. Nunca atuou em defesa de interesses particulares na Petrobras, nem defendeu pagamento de valores indevidos a terceiros", disse a nota.
Temer também foi citado na delação de Marcelo Odebrecht, ex-presidente da Odebrecht, que classificou como um "shake hands" o jantar no Palácio do Jaburu que teve com o então vice-presidente em maio de 2014, no qual foi acertada uma contribuição no valor de 10 milhões de reais da empreiteira para o PMDB.
DINHEIRO PARA CAMPANHA
O presidente foi citado ainda pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que também fez acordo de delação premiada com a Lava Jato.
Machado disse, em depoimento divulgado em junho do ano passado, que Temer lhe pediu que solicitasse recursos ilícitos a empresas que tinham contratos com a Transpetro para a campanha do então candidato do então candidato do PMDB à prefeitura de São Paulo em 2012, Gabriel Chalita.
Machado disse na delação que o valor acertado foi de 1,5 milhão de reais e que a empreiteira Queiroz Galvão deu os recursos para a campanha de Chalita, que hoje está no PDT.
Na ocasião, Temer classificou as afirmações de Machado de "levianas, criminosas e irresponsáveis" e afirmou que sempre buscou recursos para campanhas eleitorais dentro da lei.