Santiago do Chile, 19 nov (EFE).- Os chilenos foram neste domingo às urnas para escolher um novo presidente, renovar a maior parte do Congresso e outros cargos em uma votação na qual alguns incidentes isolados não comprometeram o ambiente festivo que imperou em um dia ensolarado e de céu limpo.
No início da tarde, já estavam instaladas as 42.890 mesas de votação, distribuídas em 2.156 colégios de todo o país e, por conta do fuso horário, 90% de outras 162 divididas em 62 países de todos os continentes.
Pela manhã, votaram a presidente Michelle Bachelet e os oito candidatos que disputam a Presidência nestas eleições, na qual também serão escolhidos 23 senadores, de um total de 50, a totalidade da Câmara dos Deputados, de 155 bancadas, e 278 conselheiros regionais.
Os colégios abriram às 8h (horário local, 9h de Brasília) e devem funcionar durante dez horas antes da contagem dos sufrágios, que nos locais de votação são públicos, com o presidente de cada mesa ditando os resultados em voz alta e na presença de representantes dos partidos, que podem contestar votos que parecerem duvidosos.
As eleições de hoje são as primeiras regidas por um novo sistema eleitoral proporcional que substitui o binominal, vigente desde a recuperação da democracia em 1990.
O censo eleitoral, de 14,3 milhões de eleitores, inclui cerca de 40 mil residentes no exterior, que pela primeira vez podem escolher o presidente desde os países onde vivem.
O clima de tranquilidade durante a votação foi afetado nas primeiras horas do dia pela queima de dois ônibus, um em Santiago e outro na região da Araucanía, onde também foram incendiados um galpão e um trator e estradas foram bloqueadas com árvores previamente derrubadas que depois foram queimadas, segundo informou o subsecretário do Interior, Mahmoud Aleuy.
Um fiscal que averiguava o incêndio de um ônibus no município de Collipulli foi emboscado no local do incidente com disparos e árvores derrubadas e teve que ser retirado protegido pela polícia.
"É importante que o povo compareça e eleja quem quer que represente o Chile. Esse é o meu pedido, o voto", disse a presidente Michelle Bachelet após votar em Santiago.
O conservador Sebastián Piñera, favorito das pesquisas para se tornar presidente pela segunda vez, após ter governado o país entre 2010 e 2014, teve um domingo agitado, com a ocupação da sede de seu comitê eleitoral por um grupo de jovens de extrema-esquerda que posteriormente foram retirados e detidos pela polícia.
"Piñera não sabe o que é ser chileno (...), é o símbolo da corrupção", declarou Victoria Cárdenas, uma das manifestantes.
Enquanto seu comitê era invadido, o candidato votava na Escola República da Alemanha, no centro de Santiago, quando houve bate-boca entre partidários e opositores o ex-governante.
"Por conhecer meus compatriotas, sei que vão escolher os caminhos corretos, aqueles que levam a tempos melhores", comentou Piñera, que repudiou a ocupação de seu comitê e afirmou que "a democracia tem que ser uma festa na qual cada um pode expressar sua opinião livremente, mas sem violência. A democracia tem que estar a favor de algo e não contra algo".
O candidato governista, Alejandro Guillier, votou em Antofagasta (LON:ANTO), ao norte do país, onde afirmou que hoje se enfrentam dois projetos de país, por isso "o voto de hoje é um voto histórico", e considerou que a votação foi "limpa, transparente e muito participativa".
A senadora Carolina Goic, candidata da Democracia Cristã, votou na cidade de Punta Arenas, onde disse, a respeito do resultado que espera obter, estar "muito tranquila com o trabalho realizado, com uma proposta sólida de governabilidade, do trabalho bem feito, de atuar com convicção e não com cálculos".
Em Santiago, o progressista Marco Enríquez-Ominami, que concorre pela terceira à presidência, reiterou o seu pedido a outros candidatos, especialmente Alejandro Guillier, e a figuras como a presidente Michelle Bachelet, de quem se considera herdeiro político, para que o apoiem no segundo turno, marcado para 17 de dezembro.
A jornalista Beatriz Sánchez, candidata da esquerdista Frente Ampla, se declarou após votar "super orgulhosa de ser a primeira candidata da Frente Ampla, super orgulhosa do que alcançamos, super orgulhosa do que virá depois".
O ultradireitista José Antonio Kast, identificado com os nostálgicos de Augusto Pinochet, se declarou satisfeito por ter instalado no debate público o tema "dos valores", e o senador Alejandro Navarro, identificado com Hugo Chávez e a Venezuela, disse que apoiará no segundo turno quem se comprometer a eliminar o sistema de previdência privada.
Por sua vez, o professor aposentado Eduardo Artés, candidato da marxista-leninista União Patriótica, que chegou para votar com uma bandeira da Coreia do Norte no ombro.