Por Maria Carolina Marcello e Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Michel Temer determinou que as Forças Armadas atuem em Brasília já a partir desta quarta-feira e até o final do mês de maio, após ocorrerem incidentes violentos em manifestações contra ele e contra as reformas da Previdência e trabalhista, que incluíram lançamentos de bombas de efeito moral por policiais militares e depredação de prédios de vários ministérios.
Manifestantes romperam um cordão de isolamento feito pela Polícia Militar do Distrito Federal nos arredores do Congresso Nacional e os policiais reagiram com bombas de efeito moral e foram registrados confrontos entre manifestantes, muitos deles mascarados, e policiais.
Pessoas ficaram feridas, prédios de ministérios foram alvos de inícios de foco de incêndio, muros foram pichados e vidros quebrados. O governo orientou que todas esses prédios fossem esvaziados.
Em resposta, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, anunciou em breve pronunciamento no Palácio do Planalto que Temer decretou o uso das Forças Armadas para garantia da lei e da ordem. Jungmann disse que o decreto foi assinado devido a um pedido do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). No pronunciamento, o ministro classificou os protestos na capital como "baderna".
"O presidente da República faz questão de ressaltar que é inaceitável a baderna, o descontrole e não permitirá que atos como esses venham a turvar o processo que se desenvolve de forma democrática", disse Jungmann.
O decreto de Temer aumentou o clima de tensão no Congresso e, diante da revolta da oposição, Maia tentou esclarecer que pediu a Temer a ajuda da Força Nacional de Segurança.
"Eu quero deixar claro que meu pedido ao governo foi das Forças Nacionais... do apoio da Força Nacional", disse Maia, da presidência da Câmara, ao mesmo tempo que pedia calma aos parlamentares.
"A decisão tomada pelo governo certamente tem relação com aquilo que o governo entendeu relevante para garantir a segurança, tanto dos manifestantes como daqueles que trabalham na Esplanada", acrescentou Maia que, diante do clima tenso, chamou uma reunião de líderes no gabinete da presidência da Câmara.
No Senado, a líder do PT na Casa, Gleisi Hofmann (PR), criticou a decisão de Temer e defendeu a edição de um decreto legislativo que suspendesse a eficácia da decisão do presidente, o que foi rechaçado pelo presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE).
"É grave demais o que nós estamos vendo aqui, grave demais", disse Gleisi da tribuna do Senado. "Vão fazer o que? Uma intervenção de guerra contra a população que está na Esplanada? Não é possível isso, nós temos que tomar uma medida aqui. O Congresso Nacional, o Senado da República têm essa responsabilidade", disse a petista.
O envio de militares à capital federal acontece em um momento em que Temer está fragilizado por denúncias de corrupção, após a divulgação da delação do empresário Joesley Batista, um dos controladores da JBS (SA:JBSS3), que acusou o presidente de ter recebido propina, de ter dado aval à compra do silêncio do deputado federal cassado e preso Eduardo Cunha e de ter permitido que o empresário usasse seu nome para tratar de assuntos de interesse de suas empresas no Ministério da Fazenda.
Segundo estimativas da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, 35 mil pessoas participaram dos protestos contra Temer e contra as reformas. Organizadores chegaram a falar em mais de 150 mil manifestantes.
"DIRETAS JÁ"
O movimento havia sido convocado contra as reformas da Previdência e trabalhista, apontadas como prioritárias pelo governo Temer, mas ganharam mais força em meio às denúncias que colocaram em xeque o mandato do presidente e os manifestantes passaram também a reivindicar eleições diretas para escolher o substituo de Temer.
Portando cartazes com dizeres como "Fora Temer, diretas já" e "Corruptos tirem suas mãos de meus direitos", os manifestantes foram convocados pelas centrais sindicais.
"Temer não pode ficar e estas reformas que tiram nossos direitos não podem avançar. Queremos diretas já", resumiu o sindicalista da área da saúde de Anápolis (GO) Dorivaldo Fernandes, de 56 anos.
Temer, que já enfrentava baixíssima popularidade antes, viu sua situação política se complicar muito depois da revelação de um encontro com Joesley Batista no Palácio do Jaburu e da delação do executivo, que incluiu uma gravação de um diálogo que manteve com Temer.
Com o enfraquecimento político de Temer crescem as dificuldades para a aprovação das reformas.
A trabalhista já passou pela Câmara e está em comissões no Senado. Mas a da Previdência, que é uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) e por isso necessita de três quintos dos votos na Câmara e no Senado, ainda não foi votada pelo conjunto dos deputados.
"Ainda que o Temer caia, nós vamos continuar a defender nossos direitos", disse o trabalhador no setor químico, em Marília (SP), Aguinaldo Aranha, de 41 anos.
(Reportagem adicional de Marcela Ayres e Anthony Boadle e Eduardo Simões, em Brasília)