Por Marcelo Teixeira
SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil poderia elevar suas emissões de gases do efeito estufa em até 21 por cento de 2014 até 2030 e ainda assim cumprir os compromissos assumidos no acordo sobre clima de Paris, que busca enfrentar o aquecimento global, de acordo com um estudo divulgado nesta terça-feira.
A explicação para que isso seja possível reside nas diferenças entre metodologias para calcular quanto carbono é liberado quando florestas são destruídas e quanto pode ser capturado por intermédio de recuperação de outras áreas florestais, afirmaram especialistas, pedindo ao governo para rapidamente ajustar o seu compromisso de Paris para refletir as novas metodologias.
“Certamente criaria um grande constrangimento para o país se o ajuste não for feito”, declarou Andre Ferretti, coordenador da ONG Observatório do Clima.
O acordo climático de Paris de 2015, pactuado por quase 200 países no ano passado, é o único acordo multilateral que lida com as emissões crescentes de carbono, que são apontadas como razão para as elevações das temperaturas do planeta.
No acordo, negociado de forma exaustiva durante anos, países apresentaram as suas propostas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa.
A questão curiosa do Brasil surgiu, segundo os especialistas, depois que o país divulgou neste ano o seu terceiro inventário sobre gases do efeito estufa.
O inventário usou metodologias atualizadas para calcular as emissões pelo desmatamento e o sequestro de carbono pela recuperação de áreas devastadas. Em ambos os casos os números cresceram.
“A meta de Paris do Brasil tem o ano de 2005 como seu ponto de partida para comparação, um ano quando o desmatamento ainda estava muito alto”, disse Tasso Azevedo, especialista em clima e florestas que coordenou o estudo.
Como resultado, o Observatório do Clima diz que emissões naquele ano foram muito maiores que as consideradas quando o governo do Brasil elaborou as suas metas para Paris, que tiveram como base um inventário anterior.
Da mesma maneira, a quantidade de carbono que florestas sendo recuperadas capturariam da atmosfera durante os anos até 2030 também aumentou, facilitando o trabalho que o Brasil teria que fazer para cumprir a sua meta, uma vez que a maior parte das suas emissões vêm de uso da terra.
O estudo diz que as emissões de carbono de 2005 chegaram na verdade a 2,8 bilhões de toneladas, e não 2,13 bilhões, como estimado anteriormente.
O Ministério do Meio Ambiente informou que tomou conhecimento do estudo e está ciente das mudanças nos inventários, mas que esse não seria o momento de realizar o ajuste nas metas assumidas em Paris.
"As duas Casas do Congresso acabaram de ratificar o acordo em regime de urgência. Reabrir esse tema agora poderia dar espaço para mais questionamentos", disse à Reuters o secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental, Everton Frask Lucero.
Ele afirmou que o acordo de Paris permite revisões ao longo do tempo e que as metas assumidas no ano passado são apenas um primeiro passo.
O Brasil é país que mais reduziu emissões de gases estufa no mundo, graças ao combate ao desmatamento nas últimas duas décadas. As emissões do país caíram de um pico de 3,4 bilhões de toneladas em 1991, quando a destruição amazônica era enorme, para somente 1,32 bilhão de toneladas em 2014.
No entanto, como o desmatamento caiu e se estabilizou recentemente em patamares bem inferiores, outros setores como energia têm aumentado suas emissões.