Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira o texto principal da Medida Provisória 870, que modifica a estrutura do governo federal e reduz o número de ministérios e decidiu, em votação separada, que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) ficará sob o Ministério da Economia, contra o desejo do governo, que queria o órgão na pasta da Justiça.
Primeira medida editada pelo presidente Jair Bolsonaro, a MP é encarada como prioritária e exigiu que o governo, com dificuldades no Congresso, desistisse da votação de uma outra medida para possibilitar a votação da 870 nesta quarta-feira.
A medida tem servido como um emblemático sintoma da insatisfação do Congresso com o Executivo. Quando ainda tramitava na comissão mista, teve o texto original alterado, o que forçou o governo a encarar algumas derrotas. Uma delas dizia respeito justamente à alocação do Coaf.
O líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), manteve a orientação de votar para que o Coaf ficasse sob o guarda-chuva da Justiça.
O líder, que já não conta com a simpatia de parte das lideranças na Casa e na última terça-feira teve um desentendimento com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em reunião do colégio de líderes, já vinha declarando sua intenção de retomar o texto original e irritou colegas com transmissões ao vivo e declarações na internet defendendo esse ponto de vista.
Na visão de parlamentares, mesmo aqueles favoráveis ao governo, a postura do líder atrapalha a negociação com as demais lideranças.
A despeito da posição de Vitor Hugo, a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), já vinha afirmando que a prioridade era aprovar a MP. Para ela, a alocação do Coaf seria positiva tanto na Justiça quanto na Economia.
O texto original da MP previa que o órgão ficasse submetido ao Ministério da Justiça, mas parlamentares da comissão mista, em um movimento encabeçado pelo chamado centrão, modificaram a proposta para colocar o conselho na pasta da Economia.
Deputados ainda votam emendas que podem alterar o texto principal. Uma delas, já analisada e aprovada pelo plenário da Casa, reverte o desmembramento do Ministério do Desenvolvimento Regional em duas pastas —Cidades e Integração Nacional. A criação dos dois novos ministérios havia sido aprovada na comissão mista que analisou a proposta.
Outra mudança aprovada na comissão mista que ainda deve ser objeto de votação separada determinou que a demarcação de terras indígenas ficará a cargo da Fundação Nacional do Índio (Funai), vinculada ao Ministério da Justiça, e não mais sob o guarda-chuva do Ministério da Agricultura.
Há ainda outro tema que deve ser levado a voto, e diz respeito a polêmico trecho que delimita a atuação de auditores fiscais da Receita Federal. O dispositivo altera lei de 2002 para definir que a atividade desses servidores fica limitada, em matéria criminal, à investigação de crimes no âmbito tributário ou relacionados ao controle aduaneiro.
Os indícios de crimes com os quais o auditor-fiscal se deparar no exercício de suas funções não podem ser compartilhados, sem ordem judicial, com órgãos ou autoridades a quem é vedado o acesso direto às informações bancárias e fiscais do sujeito passivo.