BRASÍLIA (Reuters) - Michel Temer (PMDB) ainda não é o presidente da República, mas já articula apoios e possíveis nomes para um eventual ministério diante da possibilidade quase certa de a presidente Dilma Rousseff ser afastada pelo Senado, que analisa admissibilidade de processo de impeachment.
Ciente da saia justa, o vice-presidente da República evita convites diretos, mas argumenta que precisa estar preparado para assumir o governo no dia seguinte ao afastamento de Dilma.
Em conversas e sondagens com nomes que considera aptos a cada pasta, não faz convites formais, mas deixa implícito acordo tácito entre as partes de que ali ocorrem tratativas indiretas para a nomeação a um eventual ministério.
No xadrez a ser desenhado, Temer tem levado em conta os “compromissos” assumidos e “garantias” firmadas com legendas que desembarcaram do governo e passaram a se posicionar a favor do impeachment de Dilma.
A senha para o apoio ao provável futuro governo já foi dada: ela envolve participação na Esplanada e toma como exemplo a não ser seguido a maneira como a atual presidente tratou seus aliados.
No dia 11 o plenário do Senado irá decidir, por maioria simples, se há elementos para a admissibilidade de denúncia de crime de responsabilidade contra a presidente. Caso os senadores resolvam aceitar o pedido de impeachment, Dilma é afastada da Presidência da República por até 180 dias, e Temer assume interinamente.
E se ao final de todo o processo de julgamento do Senado, a presidente for condenada, o peemedebista torna-se presidente da República e completa o mandato de Dilma até o fim de 2018.
Confira, a seguir, os nomes que devem integrar o ministério de um eventual governo Temer, segundo fontes consultadas pela Reuters:
EQUIPE ECONÔMICA
= Fazenda - Henrique Meirelles
Presidente do Banco Central durante os oito anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva, Meirelles é dado como praticamente certo no comando da Fazenda.
No caso de Meirelles, mais do que as fontes ouvidas pela Reuters, o próprio vice-presidente falou sobre a escolha. Em entrevista nesta semana ao jornal O Globo, Temer disse que Meirelles o deixou “muito bem impressionado”, e que ocuparia o posto se o vice assumisse a Presidência da República neste momento.
= Planejamento – Romero Jucá
Economista e senador do PMDB por Roraima, Jucá é próximo de Temer e participou ativamente das articulações na Câmara dos Deputados para que fosse aprovada a autorização para abertura do processo de impeachment contra Dilma.
Presidente interino do PMDB e um dos homens do plano econômico elaborado pelo partido, Jucá é dado como certo para o Planejamento, mesmo tendo sido citado na delação na operação Lava Jato. O parlamentar também integra lista de investigados enviada pela Procuradoria Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF) em março do ano passado.
EQUIPE PALACIANA
O vice-presidente tem como certa sua equipe palaciana, formada por peemedebistas fiéis, a quem convites não precisam ser feitos oficialmente com antecedência.
= Casa Civil - Eliseu Padilha
Hábil negociador e conhecedor do Congresso como ninguém, Padilha também é visto como um bom administrador, capaz de tocar as centenas de atividades requeridas pela Casa Civil.
Padilha auxiliou Temer por um curto período na articulação do governo Dilma e participou intensamente das conversas com deputados quando o pedido de impeachment ainda se encontrava na Câmara.
= Secretaria de Governo – Geddel Vieira Lima
Apesar de ter sido ministro da Integração Nacional no governo Lula e ocupado a vice-presidência da Caixa Econômica Federal no governo Dilma, o peemedebista tornou-se um dos mais ferrenhos oposicionistas ao atual governo.
Ex-deputado federal com boa relação com o Congresso, Geddel é irmão do deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), integrante da ala do PMDB da Câmara ligada ao presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que se opunha à aliança com o PT.
OUTRAS PASTAS
= Ministério da Justiça
Temer chegou a cogitar o advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, mas descartou a opção após entrevista em que o candidato à Justiça fala praticamente como se fosse ministro.
A avaliação de fontes é que Mariz “morreu pela boca”, e o nome mais cotado do momento é o do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Cezar Peluso.
= Ministério da Saúde e Ministério da Integração Nacional
As duas pastas foram alvo de negociações de Temer com o PP, que até pouco tempo antes de a Câmara votar a admissibilidade do impeachment, em 17 abril, integrava a base do governo Dilma.
Tanto Saúde como Integração foram prometidos para o partido por Dilma quando ainda tentava barrar o pedido de impedimento, mesma promessa fechada por Temer.
= Ministério das Relações Exteriores
A decisão do vice-presidente é de deixar o Itamaraty na mão de diplomatas. Três nomes têm sido considerados:
- Sérgio Danese, atual secretário-geral do Itamaraty. Tem boa relação com Temer, é hábil negociador político e muito bem visto dentro do próprio Itamaraty. Foi assessor parlamentar do Itamaraty e subsecretário-geral de Comunidades Brasileiras no Exterior.
- Sérgio Amaral, embaixador aposentado, é o atual presidente da Conselho Empresarial Brasil-China, foi porta-voz do governo Fernando Henrique Cardoso, ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio e embaixador em Paris.
- Rubens Barbosa, também aposentado, o diplomata foi embaixador do Brasil em Washington. Atualmente, é presidente do Conselho Superior de Comércio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Na campanha eleitoral de 2014, foi o responsável pelo programa de política externa do tucano Aécio Neves.
MINISTROS AINDA SEM PASTA
Temer ainda precisa resolver em que pasta encaixará o senador José Serra (PSDB-SP). Sua participação no ministério é dada como certa, mas ainda não foi definida em qual posto.
Da mesma forma, Henrique Eduardo Alves, muito próximo de Temer, que deixou a pasta do Turismo na véspera de o PMDB anunciar seu desembarque do governo Dilma.
Outro nome bastante cotado, mas também ainda sem lugar definido, é o do ex-ministro Moreira Franco, que ocupou a Secretaria da Aviação Civil no governo Dilma. Hoje presidente da Fundação Ulysses Guimarães, do PMDB, Moreira Franco é um dos aliados mais próximos de Temer.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu e Maria Carolina Marcello)