Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - Após o descontentamento inicial com votação que manteve os direitos políticos da ex-presidente Dilma Rousseff, que gerou uma série de declarações explosivas de integrantes do DEM e do PSDB sobre deixar a base do governo de Michel Temer, caciques dos dois partidos botaram panos quentes e decidiram, por ora, não recorrer ao STF para questionar a votação.
Por 61 votos contra 20, os senadores condenaram Dilma no processo de impeachment, mas em uma votação em separado seus direitos políticos foram mantidos.
"Após reunião com representantes dos partidos da base do novo governo - PSDB, DEM, PMDB e PPS - decidimos aguardar novas avaliações, que faremos nos próximos dias, para definir se entraremos ou não com uma ação no Supremo Tribunal Federal para questionar a manutenção dos direitos políticos da presidente cassada Dilma Rousseff", disse o senador Aécio Neves (PSDB-MG) em comunicado.
Segundo uma fonte, que participou da reunião e pediu anonimato, recorrer ao STF não seria inteligente, uma vez que uma decisão da corte poderia inclusive anular a votação que condenou a petista por crime de responsabilidade e resultou na perda de seu mandato. Uma ação no STF poderia lançar uma nuvem de insegurança sobre o mandato de Temer.
Acordaram, então, que a palavra de ordem do momento é aguardar, deixar a poeira baixar, e manter conversas com interlocutores do presidente Temer, sem, no entanto, esconder seu descontentamento com o resultado da votação que manteve os direitos políticos de Dilma.
A revolta entre partidários das duas siglas foi manifestada assim que o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, responsável pela condução do julgamento do impeachment, anunciou que acataria o pedido de aliados de Dilma e faria duas votações –uma para definir se perderia o mandato, e outra para avaliar se ficaria inabilitada para exercer cargos públicos.
Depois, diante do resultado –42 a 36, quando eram necessários 54 votos para condená-la à inabilidade– e da participação de peemedebistas na parcela que aliviou a pena de Dilma, dispararam que iriam questionar a decisão na Justiça, quando não declaravam que deixariam a base do governo.
Rapidamente foi convocada uma reunião, entre o encerramento das votações do impeachment e a posse de Temer, para colocar panos quentes e pensar a situação sob um ângulo mais estratégico.
Segundo a fonte, Temer conversou com alguns tucanos e democratas, para explicar que não houve acordo para manter os direitos políticos de Dilma. Temer, aliás, chegou a ligar, a pedido do senador Romero Jucá (PMDB-RR), para integrantes de seu partido para evitar votos favoráveis a Dilma na segunda votação.
Temer fico descontente com o resultado. A avaliação do Planalto é que a tese jurídica que permitiu as votações separadas não existe.
No fim do dia, na primeira reunião ministerial que realizou após assumir definitivamente a Presidência, Temer disse a sua equipe que não vai tolerar esse tipo de conduta.
(Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu)