BRASÍLIA (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff disse nesta segunda-feira que as reformas ministerial e administrativa anunciadas na semana passada terão mais desdobramentos com o objetivo de ter um Estado mais eficiente, garantindo parcimônia de gastos e equilíbrio na sua coalizão de governo.
A presidente deu posse aos 10 ministros anunciados na última semana, como parte da reforma ministerial que pretende dar mais fôlego à articulação política e tornar mais firme a base do governo no Congresso.
"Esse novo conjunto de ações que iniciam agora, mas que terão novos desdobramentos. Procuramos atender as exigências justas e atuais por um Estado mais eficiente, mais focado e mais capacitado para garantir parcimônia em seus gastos", disse a presidente.
"As mudanças também buscam garantir mais equilíbrio à coalizão que me elegeu e deve governar comigo", disse.
Dilma voltou a falar em uma "travessia" para uma que o Brasil alcance um novo ciclo de crescimento e que será necessário um "intenso trabalho ministerial.
"Todos nós queremos um Estado mais preparado para alcançar o reequilíbrio fiscal necessário e imprescindível para a retomada do crescimento. Estamos todos empenhados no reequilíbrio das contas públicas, no combate à inflação e na retomada da confiança dos investimentos na nossa economia", disse.
A presidente cobrou ainda diálogo dos ministros com o Congresso, com parlamentares, com a sociedade e entre si.
"A principal orientação que dou aos novos ministros, e aos ministros que continuam no governo, é que trabalhem ainda mais, com mais foco, com mais eficiência, buscando fazer mais com menos. Dialoguem muito e sempre com a sociedade, com os parlamentares, com os partidos e com os movimentos sociais", pediu.
A falta de diálogo com o Congresso é uma das maiores queixas dos parlamentares em relação ao governo Dilma. Nas mudanças feitas nessa reforma ministerial, a presidente tentou reparar as pontes com os parlamentares na nomeação de Ricardo Berzoini para a Secretaria de Governo, responsável pela articulação política, e Jaques Wagner, que é conhecido pelo bom trânsito com todas as forças do Congresso, para a Casa Civil.
No discurso, Dilma recomendou a Wagner que seja "um parceiro" de todos os ministérios. A Berzoini, repetiu o pedido de diálogo. "Dialogar muito e sempre é a tarefa que espero ver cumprida por Berzoini frente à Secretaria de Governo", disse.
REFUNDAÇÃO
A necessidade de fazer uma "refundação" do governo, como classificavam ministros envolvidos nas negociações, levou o Planalto a sair de uma reforma que seria apenas administrativa, como preferia chamar a presidente, para uma mudança ministerial.
Na tentativa de ampliar o apoio no Congresso para tentar barrar iniciativas de impeachment e aprovar as novas medidas de ajuste fiscal, a presidente ampliou o espaço do PMDB no governo e atraiu de volta para a base o PDT, que havia se declarado independente no início de agosto.
Ao prometer dois ministérios ao PMDB na Câmara, Dilma conseguiu atrair para o governo uma bancada cujo apoio tem sido, até este momento, instável – para dizer o mínimo. No anúncio da reforma, na última sexta-feira, a própria presidente admitiu que a reconfiguração do ministério era feita para consolidar a base no Congresso.
Na nova montagem de governo, o PMDB aumentou seu espaço no ministério de seis para sete pastas. O partido ocupa ministérios com mais peso, como o da Saúde, que tem o maior orçamento da Esplanada.
A chegada de Wagner à Casa Civil, antes ocupada por Aloizio Mercadante, que retorna ao Ministério da Educação, sinaliza ainda uma outra concessão à base. Criticado como desagregador e de trato difícil, Mercadante era atacado até mesmo dentro do PT. Dilma não queria afastar do Planalto seu auxiliar mais fiel, mas acabou se convencendo que o custo político de mantê-lo era alto demais.
Inicialmente, a ideia do governo era eliminar 10 das 39 pastas existentes antes da reforma, mas a necessidade de contemplar todos os aliados, principalmente o PMDB, acabou fazendo com que a meta original não fosse cumprida.
Também fazem parte das reforma administrativa e ministerial a eliminação de cargos comissionados e o corte em 10 por cento dos salários dos ministros, do vice-presidente Michel Temer e da própria Dilma.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu e Leonardo Goy)